Coluna da Segunda-feira

Fim de ano?

Renato Nunes
Ou início de ano? O que queremos comemorar? Resposta complicada. Por dentro, no íntimo, temos nossas expectativas, alegrias e desgostos, material necessário para fazermos um balanço pessoal do ano que passou. Desse balanço organizamos nosso rumo do novo ano. Mas por fora, abertamente, com a família, amigos, vizinhos, somos levados de roldão no meio do barulho, fogos e buzinaços para comemorar a entrada do ano novo. É só alegria. Ninguém se reúne para fazer uma choradeira geral, uns dando tapinhas nas costas dos outros para consolar suas tristezas e frustrações. Quem ganha os aplausos é o ano que entra e não o que sai. Saem aplaudidas a esperança e as incertezas do futuro. Xô tristezas e certezas passadas.

Parece até que a realidade se divide de acordo com os ponteiros do relógio, na passagem da meia noite do dia 31 para a zero hora do dia 1º, como se um dia não tivesse nada a ver com o outro e ficou tudo para trás. No mundo inteiro, as diferentes culturas comemoram dessa forma. São festas diferentes, outros símbolos e até outras datas, mas o sentido é o mesmo, viva o ano novo.

É bom que seja assim, mas todos sabemos que apesar das alegrias e bons fluidos do futuro nada pode ser esquecido, situações importantes não devem ser negligenciadas só porque pertencem a acontecimentos do ano que se finda.

Mas cada vez mais nos obrigam ao esquecimento. As energias do civismo que reclama se dissipam. A tradição de alegria gera festas cujo sentido solidário foi distorcido e que são acompanhadas e patrocinadas pelo comércio e pela TV. Vender muito, esse é o grande compromisso que orienta a programação e falseia a visão da realidade. Mostra, no fim do ano, um mundo novo que vai começar a partir dali. Perdoa-se tudo, inclusive as inépcias do poder público, as promessas não cumpridas. A mensagem por trás disso tudo diz: não proteste, esqueça, agora é vida nova, vamos começar tudo de novo.

O excelente artigo do Rui Grilo publicado no Víbora na Coluna de Sexta Feira, “A Constituição Cidadã e a mídia”, além do caráter extremamente pertinente e grave da denúncia e do elevado e oportuno distanciamento partidário, expõe os responsáveis pelo atraso brasileiro e o perigo do esquecimento a que toda a sociedade é submetida.

Lembra ele que a Constituição Cidadã assim foi chamada porque ouviu “movimentos sociais com o objetivo de assegurar e ampliar direitos e melhores condições de vida”, e que os avanços na área de comunicações foram prejudicados pelo “intenso lobby dos detentores das concessões, sendo grande parte deles parlamentares e membros do executivo”. E acrescenta que o “Conselho de Comunicação Social há mais de dois anos não se reúne” e que “cerca de 400 projetos foram apresentados mas não foram votados”.

É lamentável. Conforme o Art. 227 da Constituição também lembrado pelo Rui, é a família e a sociedade cumprindo suas obrigações e o Estado, através dos deputados, senadores e poder executivo descumprindo a citada determinação constitucional. Jogam há anos e em todas as áreas contra as melhorias propostas pela sociedade por razões de interesse político ou econômico.
Dirão que esse é o ônus da Democracia, que o povo não sabe votar e que o tempo irá melhorar o nível de nossos representantes. Isso é verdade, mas não pode parar por aí. A única maneira de forçar um político a priorizar a sociedade e não a própria carreira é pôr sua reeleição em risco. É tiro e queda, tiro certeiro.

Está na hora de criar um movimento social apartidário de pressão e monitoramento da ação parlamentar em todos os níveis, municipal, estadual e federal. E de registro para evitar que os bandoleiros do poder público caiam no esquecimento.

400 projetos apresentados sobre um único tema e que não foram votados, não dá para esquecer.

Como se vê, não existe o passado. O passado é o bolso de trás da calça. Pra você se desfazer do passado tem que jogar fora a calça, e aí, você fica nu como veio ao mundo. Cheio de incertezas, novidades e assombrações.

Busque o novo, exija, crie, adapte-se, mas esteja sempre com seu passado à mão, ele é a luz que te guia.


São meus votos para 2009.

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