Coluna da Segunda-feira

Bate papo

Renato Nunes
Tenho muita admiração pelo Celso de Almeida Júnior, meu colega de coluna neste blog viboroso. Ele às sextas, eu às segundas. Conheço o Celso há muito tempo, porém, raramente conversamos, o corre-corre e os afazeres tão distantes não permitem encontros freqüentes. Mas agora, pelo Víbora poderemos trocar idéias, só que públicas. Ao me dirigir a ele não posso usar a mesma linguagem que usaria num encontro casual de calçada. É pena, um bom palavrão às vezes diz muito melhor as coisas que num texto educado ficam escondidas. Passa-se a idéia, mas dificilmente o sentimento. Essa charada é coisa para os poetas, ou para os iluminados. Tentarei fazer o melhor possível.

Sua pequena crônica da última sexta feira chamou minha atenção para dois pontos que tem tudo a ver com o desenvolvimento desta cidade, e por esse motivo resolvi fazer alguns comentários de ordem pessoal. O primeiro refere-se ao loteamento da Ponta das Toninhas e a vista que dali se tem sobre toda a praia. Lembrei-me de imediato do enorme esforço para realizar aquele loteamento. Contratado pelo Dr Wladimir de Toledo Piza, proprietário de toda aquela área, elaborei o projeto do loteamento no início dos anos setenta, em época que não existiam o computador, a câmara digital, as imagens de satélites e tampouco a legislação ambiental de hoje, restritiva, impeditiva, suicida. Os cuidados e o trabalho ficavam a cargo da consciência de cada um, balizado por algumas normas de caráter geral. Passei meses andando sozinho naquele morro à procura do melhor traçado das ruas, situações de pequena declividade, localizando as quadras fora dos locais de vegetação significativa ou das belíssimas formações rochosas, cujas pedras apresentavam desenhos esculpidos pelo vento durante milênios.

Na ocasião minha preocupação foi inversa àquela manifestada pelo Celso em seus comentários que ressaltava a qualidade da vista do alto do morro. Eu não queria que o sistema viário fosse agressivo aos olhos dos freqüentadores da praia, de baixo para cima, sabendo que a vista do alto do morro para a praia já estava devidamente canonizada pela natureza.
O Dr Piza foi um grande parceiro ao se negar a entupir a área de pequenos lotes visando apenas quantidade. Faça o seu trabalho da melhor maneira que puder, dizia ele, que o reconhecimento e a valorização econômica virão naturalmente. E assim foi. Posteriormente tive a satisfação de saber que o CONDEPHAAT usou alguns conceitos desse projeto como diretrizes de ocupação da Serra do Mar após o decreto de seu Tombamento. Os mesmos cuidados para intervenção em área de extrema beleza foram tomados por mim juntamente com o arquiteto Carlos Lemos, o proprietário Leon Sisla e o engenheiro George Glicério quando em conjunto elaboramos o projeto do loteamento da Praia Vermelha do Sul, que mais tarde veio a se chamar a Praia dos Arquitetos, hoje também reconhecida pelo respeito ao meio ambiente e preservação de seus recursos naturais.

O segundo ponto mencionado pelo Celso é de natureza política. No sentido de defender o desenvolvimento de Ubatuba, ele faz uma convocação aos cidadãos para que não esperem as iniciativas do Poder Público. Que tenham mais confiança em nosso futuro e não desanimem, fazendo seus investimentos independentemente das divergências quanto a condução do governo. Abrir a carteira, é a proposta que faz como forma de tocar o barco em frente.
Acho muito oportuna a convocação para o engajamento ativo da comunidade nos rumos do desenvolvimento do município. Mas para abrir a carteira é preciso, como ponto de partida, confiar no Poder Público, sempre ávido de se apropriar política e eleitoralmente das boas ações da comunidade. Como confiar em nossos políticos se nem ao menos houve alguma proposta para implantar efetivamente o Plano Diretor, responsável que será por todo o desenvolvimento futuro do município, contrariamente aos atuais e crônicos processos de administração por improvisos? Mas vale o toque no tema.

Resumindo, tenho por experiência própria, e os exemplos concretos estão aí para serem vistos, que é possível reforçar a receita desta cidade implantando com qualidade e bom senso formas de ocupação imobiliária e turística de inúmeras regiões do nosso território. Temos que nos unir para contestar a política míope e suicida do Estado, que não licencia, não autoriza, não define, e pior de tudo, não coíbe as reais invasões das margens dos rios e encostas na periferia da cidade. Os prejuízos sociais dessa política são incontestáveis.
A questão da confiança da comunidade em seus representantes somente terá algum avanço se forem mudadas no Congresso as regras para escolha dos homens públicos. A votação em dois turnos em todas as cidades brasileiras e o voto não obrigatório são bandeiras que devem ser empunhadas por toda a sociedade, se quisermos nos livrar dos vícios do coronelismo, dos currais eleitorais e da venda de votos que descaracterizam todo o poder público do país.

Comentários

Anônimo disse…
Saudações!
Caro Prof. Renato Nunes,

Captei sua mensagem pública.
Quando vc estiver com vontade de soltar uns verbos para o gaijo...
basta clicar no texto #$%&@*§ª£¬*
que a gente entende.

Tem uns dois ou três derrotados aí que gostam de colocar areia no motor de outros...putz! quantas vezes tive aquela vontade de mandá-los para o lugar do cramulhão e não mais voltar...
Aquele abraço.

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