Coluna da Segunda-feira

Crise

Renato Nunes
Hoje só se fala em crise. A origem grega da palavra crise quer dizer mudança. Quando tudo vai mal indica que alguma coisa está mudando ou está fazendo pressão para ser mudada. Será que podemos interferir? Depende, nunca se sabe. Uma coisa é certa, podemos ser agentes passivos ou ativos nos processos de mudança. Aí está o enigma. Se só podemos assistir quietos para ver como a coisa fica, somos agentes passivos. Porém, se der para entrar no assunto, compreender o sentido das mudanças que se fazem necessárias e participar das correções, então seremos agentes ativos do processo. Mas, de que crise estamos falando? Se for da crise financeira mundial, estamos infinitamente longe de poder interferir. Nem dá para entender como bilhões de dólares viraram fumaça em segundos. Os governantes dos paises mais desenvolvidos do planeta estão correndo como baratas tontas atrás de uma solução conjunta, autorizando a liberação de créditos astronômicos para irrigar a produção e o consumo no mundo, afirmando que o pior ainda pode vir. Dizem que os paises pobres, os emergentes, todos serão afetados. Caramba! Até poucos meses atrás tudo era cor de rosa. A China com índice altíssimo de desenvolvimento, a Europa esbanjando alegria, os produtores de petróleo cantando de galo, de repente tudo ruiu?

Outro dia um operador da Bolsa de São Paulo meteu uma bala no peito em pleno ambiente de trabalho. Sua tarefa era comprar e vender ações para os outros, e se ele quis se matar foi porque também comprava e vendia para si. Era um operador aplicador. Ninguém se mata porque os outros perderam dinheiro, foi desespero em causa própria. No compra e vende deve ter perdido uma grana preta que não era dele, e não se falou mais no assunto. Em 1929 na Grande Crise, a Bolsa de Nova Yorque levou muita gente a se atirar dos edifícios em estado de absoluto descontrole.

E nós? O que a crise de Nova York, de Londres, da Bolsa de Tóquio tem a ver com Ubatuba, Ipiranguinha, Sertão do Ubatumirim? É assustador não saber a resposta. E que não venham os entendidos com brilhantes explicações. Existem duas profissões interessantes que erram sempre, os meteorologistas e os economistas. Se não foram capazes de prever o desastre, será que serão capazes de fornecer uma solução? Nessa crise, mais do que simples agentes passivos, somos vítimas. Mas se mundialmente as coisas vão mal a ponto de afetar um pequeno município como o nosso, podemos tirar disso algum ensinamento e sair da condição de passivo para a de ativo, dentro da nossa escala.

Há um velho preceito que diz que em época de crise se planeja, depois, na normalidade se executa o planejado. Acho que é o que devemos fazer. Vamos ficar ao alcance de nossas forças. A força econômica de nosso município vem da necessidade de descanso e lazer dos moradores de outras cidades, das grandes, aquelas cheias de congestionamentos, problemas, asfalto e concreto.
O prefeito Eduardo César foi eleito para um novo mandato. Não precisou apresentar planos de governo, bastou dizer que ia continuar e pronto, ganhou a confiança dos eleitores. Porém há muita coisa a ser feita, só não sabemos quais são suas prioridades. Diante da recessão mundial e seus prováveis reflexos em nossa economia, acho que o prefeito poderia criar um grupo de trabalho fora dos quadros oficiais para discutir e traçar rumos. Temos o Plano Diretor que define toda a estrutura econômica do município e a forma de gerar as Políticas Públicas. Como implanta-lo? Existe a determinação legal de se criar o Conselho da Cidade, dos Conselhos Distritais como forma de obter a adesão popular na busca por soluções de interesse coletivo. Como tirar o projeto da lei de Uso do Solo do bate boca político e coloca-lo a serviço do desenvolvimento? Como racionalizar as relações do município com os órgãos do Estado e da União para agilizar aprovações de projetos de enorme interesse da cidade?

Do jogo de pressões da legislatura que ora se encerra, muita coisa ficou perdida nas posições políticas pessoais. Vereadores que atravancaram discussões em função de interesses menores não foram reeleitos e de sua presença ficou só o atraso na aprovação de medidas importantes para a cidade.

Assim não dá. Talvez a grande crise mundial aponte um novo rumo na prática administrativa tradicional de nosso município. A comunidade não pode ser considerada sempre como oposição aos dirigentes de plantão. Precisamos modernizar essas relações e para isso há necessidade da crítica, porque só através dela se evitam erros de avaliação, de propostas e de programas.

Estou inteiramente de acordo com meu colega de coluna do Víbora, o Celso de Almeida Junior, que reclama o direito de criticar sem ser por isso tomado como inimigo. Inimiga é a omissão. Inimigo é ser agente passivo numa crise que está ao nosso alcance resolver.

Comentários

Anônimo disse…
Cara Sr. Renato.

Tenho profunda admiração por sua pessoa. Desde muito jovem, ouvia falar do senhor, de sua cultura e capacidade profissional. Porém, nas últimas semanas não tenho encontrado em seus textos a coerência de que tanto ouvi falar. O Senhor diz "O prefeito Eduardo César foi eleito para um novo mandato. Não precisou apresentar planos de governo, bastou dizer que ia continuar e pronto, ganhou a confiança dos eleitores". Como o PV, um partido de princípios ideológicos tão intensos pode apoiar um candidato que; se quer apresentou propostas para a nossa comunidade. E não me venha dizer que Eduardo é merecedor de tal confiança, pois nas últimas décadas Ubatuba não avançou em nada. Como arquiteto, o senhor sabe que nossa cidade apena inchou. O planejamento passou longe daqui nos últimos anos. Isso sem falar na óbvia discriminação religiosa a que estamos submetidos. Esse o único ato planejado (mais fiéis empregados, mais dízimo). Um político sério deveria defender a cultura em todas suas manifestações artísticas e religiosas. Como partidos como o PV, o PC do B e tantos outros com um perfil e história podem apoiar um candidato do Democratas, ou seria PFL, ou seria Aliança Renovadora Nacional, a famigerada Arena? É, esse mesmo, o partido de sustentação do regime militar. Estamos mesmo regredindo. Até nossos pensadores estão se submetendo a força dos “Coroné”. Me desculpe pelo desabafo. A culpa não é do senhor. A culpa é da pseudo sociedade com princípios éticos totalmente deturpados na qual vivemos. Cultivem os arredores do Umbigo,é tudo o que conseguem ver.

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