Reflexões

Educação

Sidney Borges
Tenho lido muito sobre educação. É um tema fascinante no qual muitos se aventuram a opinar. Depois de trabalhar por mais de trinta anos na atividade em salas de aulas e hoje atuar como autor de roteiros para vídeos educacionais, sinto-me na obrigação de palpitar. Eu disse palpitar, não pretendo ser o dono da verdade nem ter razão. Estudei a vida inteira por conta do Estado. Nasci em berço de prata, ou seja, minha família tinha o básico para viver decentemente. Mas sou originário de uma região de baixa classe média. Meus colegas de escola eram filhos de trabalhadores. Um deles há pouco esteve na iminência de comprar a Varig. É rico, poderoso. O pai dele dirigia ônibus. Muitas vezes fomos à Praça Clóvis no ônibus dirigido por ele. Os outros colegas eram igualmente filhos de famílias modestas. Alguns hoje são médicos, outros engenheiros, há advogados, donos de restaurantes e até professores. A escola primária era gratuita e havia vagas para todos. Os menos favorecidos tinham material e lanche por conta da casa. Quem não era pobre pagava. A escola era dura, não era fácil passar de ano, muitos ficavam pelo caminho. O ginásio estadual também era aberto a todos. Desde que passassem no exame de admissão. E havia uma coisa aterrorizante chamada jubilamento. Ou seja, quem levasse duas bombas seguidas era convidado a se retirar. Foi em uma escola assim que acabei o colegial e entrei na USP. Não sei se o ensino era bom ou ruim, sei que aprendi a escrever, a ler e a fazer cálculos aritméticos no primário. Hoje falam tanto em ensino revolucionário, em métodos libertários e coisas do gênero que sou levado a acreditar que funcionem bem. Se é bom deve ser aplicado, o Brasil precisa de gente capaz. Só não concordo quando dizem que a escola do meu tempo servia às elites. Até aceito que seja usado o termo elite, mas em outro contexto. Aquela escola formava elites. Ou a mobilidade social do filho de um motorista de ônibus, que se tonou milionário graças ao trabalho, não é emblemática? Quando meus colegas daquele tempo ouvem disparates desse tipo dão risadas. Eles sabem o quanto ralamos para hoje sermos tachados de elite. Ou zelite como querem alguns.

Comentários

Anônimo disse…
Falando em educação Sidney,voce leu o artigo de hoje sobre educação sexual nas escolas publicas,do Reinaldo Azevedo?

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