Opinião

Palavrório anticíclico

Editorial do Estadão
A nova idéia do governo federal para combater a crise é uma campanha com o slogan "o mundo aprendeu a respeitar o Brasil e o Brasil confia nos brasileiros". Anúncios em rádios, TVs, jornais e internet estimularão o consumidor a gastar para manter a economia em funcionamento - e ainda mostrarão, como um brinde especial ao distinto público, os grandes acertos da política econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Esta, pelo menos, foi a explicação apresentada logo depois da reunião ministerial na Granja do Torto, na segunda-feira. Nenhuma outra medida concreta foi anunciada. O presidente da República juntou numa sala 36 de seus 37 ministros, durante horas, para discutir a maior crise internacional desde os anos 30 e suas implicações para o Brasil e esse foi o resultado mais vistoso.

Coube ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, e a seu colega da Comunicação Social, Franklin Martins, contar à imprensa como foi a reunião e resumir as conclusões do encontro. Mantega mencionou, apenas como hipótese, novos cortes de tributos. Lembrou, como exemplo, a redução, anunciada na última semana, do IOF cobrado nas vendas de motocicletas. Em relação a novos estímulos nada foi anunciado pelo ministro.

O governo, segundo ele, fará de tudo para a economia brasileira crescer 4% em 2009. Haverá, admitiu, uma desaceleração do crescimento, mas o governo trabalha para não deixá-la instalar-se no País. A solução, de acordo com Mantega, será investir. "O presidente Lula quer manter o Brasil como um canteiro de obras."

Pelas estimativas oficiais, o setor público poderá investir R$ 101,5 bilhões em 2009: R$ 21 bilhões destinados ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), R$ 40 bilhões desembolsados pelas estatais, R$ 14,5 bilhões do Fundo Soberano e R$ 26 bilhões de restos a pagar (verbas orçamentárias empenhadas, mas não desembolsadas neste exercício).

O Brasil, disse o ministro, já tem um programa anticíclico: "O PAC é um programa anticíclico por antecipação, pois, ao lançá-lo, a idéia do governo foi fortalecer o crescimento da economia brasileira." É uma declaração instrutiva. Primeiro, porque se refere à invenção de um programa anticíclico formulado muito antes do surgimento da crise. Segundo, porque mostra ao cidadão menos informado a semelhança entre "aceleração do crescimento" e "fortalecimento do crescimento".

Na mesma linha esclarecedora, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, mencionou, ontem de manhã, a ordem do presidente aos ministros para aplicarem toda a verba prevista para a realização do PAC. A orientação, segundo ela, é "acelerar ainda mais o PAC". Mas para que a recomendação, se a verba já está no orçamento? E que significa "acelerar ainda mais", no caso de um programa notoriamente emperrado?
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