Opinião

De acusador a acusado

Editorial do Estadão
Do ponto de vista institucional, é um descalabro o rififi na Polícia Federal (PF), notoriamente dividida entre o "partido" do ex-diretor-geral Paulo Lacerda e o do atual, Luiz Fernando Corrêa. Mas, à falta de melhor, esse é o preço que infelizmente o País está fadado a pagar pelo desvendamento, com todos os seus pormenores, da seqüência de ilícitos que transformaram em caso de manual de procedimentos abusivos a Operação Satiagraha. Conduzida pelo messiânico delegado Protógenes Queiroz, o seu alvo central é o banqueiro Daniel Dantas, acusado de evasão de divisas, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

Tão ou mais grave que o inquérito sobre o comportamento funcional do delegado Protógenes é o julgamento, em curso no Tribunal Regional Federal de São Paulo, do pedido de afastamento do juiz Fausto De Sanctis do processo em que Daniel Dantas é acusado de corrupção. A defesa do banqueiro questiona a imparcialidade do juiz - que já deixou claro que irá condená-lo - e sustenta que ele trabalhou em coordenação com o delegado Protógenes. No julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), do mérito dos mandados de prisão do banqueiro, libertado por liminar expedida pelo ministro Gilmar Mendes, não apenas se decidiu por 9 votos contra 1 que Daniel Dantas deveria permanecer solto, como o ministro Celso de Mello declarou que o juiz De Sanctis tentou construir um "feudo" em sua vara, e o ministro Cezar Peluso, pedindo providências contra o juiz, observou que "o Judiciário não foi criado para condenar, mas para julgar".

O espalhafato do delegado Protógenes e seu pouco-caso com as normas pelas quais o policial deve se conduzir levaram a cúpula da PF a afastá-lo das investigações. A gota d'água foi a revelação de que Protógenes, à revelia da chefia da PF, mas seguro do apoio do seu patrono Paulo Lacerda, então titular da Abin, arregimentou pelo menos 72 funcionários da agência para a Satiagraha. Lacerda negou ter tido conhecimento da mobilização. Dado o porte da operação, a PF considera isso impossível.
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