Opinião

O tempo é curto na área do clima

Washington Novaes
Avivou muito as discussões a presença em São Paulo, esta semana, do afável e cordial - mas não menos contundente - sir Nicholas Stern, ex-economista-chefe do Banco Mundial e coordenador do relatório sobre mudanças climáticas pedido pelo governo britânico em 2006. Nesse documento, que mudou o rumo das discussões, Stern afirmara que tínhamos dez anos para enfrentar a questão do clima, aplicando em soluções pelo menos 1% do produto bruto mundial (cerca de US$ 600 bilhões) a cada ano; se não o fizermos, corremos o risco da "mais grave recessão econômica da História", que pode significar a perda de 20% do produto mundial.


Há poucas semanas, Stern corrigiu - e agora reiterou em São Paulo: "Em 2006 eu fui muito otimista, não temos dez anos." As emissões cresceram muito no mundo e os custos já seriam de 2% do produto ao ano. E será preciso estabilizar a concentração de carbono na atmosfera em nível mais baixo (450 partes por milhão) do que fora imaginado (500 a 550). No ritmo atual, a temperatura do planeta subirá de 2 a 3 graus Celsius até 2050 e 5 graus até 2100 (a média é de meio grau por década). A média de emissões por pessoa precisará baixar das atuais 7 toneladas anuais (nos países industrializados varia de 10 a 24 toneladas per capita; no Brasil é superior a 2 toneladas) para que se consiga uma redução de pelo menos 50% nas emissões totais até 2050, o que implica 80% para os países industrializados. Mas a crise financeira está agravando tudo. Porque o custo da redução inclui de US$ 20 bilhões a US$ 75 bilhões no comércio de carbono, que empresas de países industrializados já estão contendo. E mesmo na Europa - mais empenhada em reduções que outras áreas - países como Itália, Polônia e outros estão pedindo que seja adiado o compromisso de reduzir as emissões em 20% até 2020.

Na televisão e em outros lugares, Stern fez uma advertência oportuna para o Brasil: a questão do clima não se pode confinar no Ministério do Meio Ambiente, "precisa da participação da Casa Civil, dos Ministérios da Agricultura, do Desenvolvimento, da Fazenda" - isto é, das áreas governamentais hoje mais empenhadas num crescimento econômico quase a qualquer preço do que em esforços para conter o desmatamento, mudar matrizes energéticas e do transporte, reduzir as emissões industriais. Também colocou condicionantes claras para a exploração do petróleo da camada pré-sal: vai depender da cotação do petróleo (que, aos preços atuais, pode inviabilizá-la); de mudanças nos transportes (para veículos menos poluidores); e da viabilidade da tecnologia de capturar as emissões na sua fonte (usinas de energia, indústrias e outras) e sepultá-las debaixo da terra ou no fundo mar - é uma tecnologia que o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas avaliou como tecnicamente possível, mas dependendo do que acontecerá na terra, em termos geológicos e de recursos hídricos, e no mar, com a biodiversidade marinha.
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