Energia

Ambientalista defende energia nuclear como forma de reduzir emissões de CO2

Em palestra no Rio, um dos fundadores do Greenpeace afirma que é preciso quadruplicar número de usinas nucleares no mundo

Fonte Nuclear

A expansão da energia nuclear é uma das formas mais eficazes de reduzir as emissões mundiais de dióxido de carbono (CO2), principal gás responsável pelo aquecimento global. A oposição dos ambientalistas à construção de usinas nucleares e de hidrelétricas é um entrave à redução destas emissões e um incentivo à construção de usinas térmicas. Quem afirma é o canadense Patrick Moore, um dos fundadores do Greenpeace e uma das estrelas do movimento ambientalista internacional. Ele fez palestra ontem no Rio de Janeiro em evento paralelo ao XII Congresso Brasileiro de Energia (CBE), a convite das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), da Eletronuclear, da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben) e da Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan).
A energia nuclear é segura, limpa e econômica, ressaltou Moore, lembrando que 21 países produzem 15% ou mais de sua eletricidade a partir desta fonte. Para ele, é necessário um programa ousado de construção de usinas nucleares para combater o aquecimento global. Ele afirma ser preciso quadruplicar o número de reatores em operação nos próximos 50 a 60 anos, passando dos atuais 439 para cerca de 1.600. Dessa forma, a energia nuclear responderia por mais de 50% da geração mundial.
Moore criticou o fato de os ambientalistas defenderem o abandono não apenas dos combustíveis fósseis, mas também da energia nuclear e da hidroeletricidade. Para ele, isso não é uma proposta sustentável, pois estas fontes juntas representam 91,2% de toda a energia gerada no mundo. As energias nuclear e hídrica se tornam ainda mais importantes ao se levar em conta que a demanda energética mundial está crescendo e as emissões estão aumentando.
Em sua opinião, energias alternativas, como a eólica, são capazes apenas de complementar a geração energética, mas não sustentar o fornecimento energético de um país inteiro, por serem intermitentes e pouco confiáveis. “A energia eólica só é sustentável quando o vento está soprando. Ela só tem um aproveitamento de 30% e precisa de back up. Além disso, precisa ser subsidiada pesadamente. A base de um sistema de geração precisa ser nuclear ou hidrelétrica. Estas são as únicas fontes não-emissoras de gases responsáveis pelo efeito estufa que podem substituir os combustíveis fósseis de forma efetiva”, ressaltou.
Ele citou como exemplo negativo o caso da Alemanha, que tem em vigor uma política de fechamento progressivo de suas usinas nucleares, enquanto mantém um sistema elétrico em que o carvão responde por 60% da geração. “Na Alemanha, o consumo de gás natural está aumentando, mesmo com o investimento em energia eólica e solar. As usinas nucleares respondem por 25% da energia gerada no país. Se elas forem fechadas, como os alemães conseguirão reduzir suas emissões? Os reatores nucleares serão substituídos por carvão ou gás. Além disso, os alemães terão que aumentar as importações de gás da Rússia e de energia da França, onde 78% da geração são nucleares”, argumentou.

Oposição foi erro do movimento ambientalista

Moore afirmou ainda que a oposição à energia nuclear foi um grave erro do movimento ambientalista. Segundo ele, a geração de energia, assim como a medicina, é um uso benéfico da tecnologia nuclear e não pode ser encarada da mesma forma que as armas nucleares. “Os protestos ajudaram a suspender a construção de usinas nucleares em países como os Estados Unidos e o Reino Unido. Se não fosse por isso, hoje haveria bem menos usinas a carvão em operação no mundo”, frisou.
O ambientalista rebateu os argumentos de que a energia nuclear é perigosa e destacou que nunca houve nenhum acidente nuclear no mundo ocidental que resultasse em mortes. No caso de Three Mile Island, em 1979, nos EUA, o prédio de contenção do reator impediu que a radiação atingisse o meio ambiente e a população. Já o acidente de Chernobyl, em 1986, foi o resultado de falhas da antiga União Soviética, que, durante a Guerra Fria, não tinha o mesmo nível de segurança operacional encontrado no Ocidente. O reator – adaptado de um projeto militar para produção de plutônio para armas – não contava com um prédio de contenção e utilizava grafite como moderador, o que permitiu que o incêndio no núcleo durasse duas semanas.
Em sua palestra, Moore enfatizou que o urânio é uma fonte de energia que existe em abundância no mundo e defendeu o reprocessamento do combustível usado, afirmando que, através da reciclagem, pode-se extrair dez vezes mais energia. Por isso, não pode ser chamado de rejeito. “Nós podemos armazenar estes combustíveis usados de forma segura até que possam ser reciclados. Dos 59 reatores franceses, 22 utilizam combustíveis reciclados”, exemplificou.
Uma mudança de percepção sobre a questão dos rejeitos radioativos, aliás, foi um dos fatores que o fizeram mudar de opinião em relação à energia nuclear. “Achava que devia ter medo dos rejeitos. Mas então percebi que eles não estavam fazendo mal a mim ou a qualquer outra pessoa, ao contrário dos combustíveis fósseis. Foi um caso de superar o medo e a emoção e usar a lógica”, concluiu o ambientalista, que foi presidente do Greenpeace no Canadá durante nove anos, diretor do Greenpeace Internacional durante sete anos e hoje preside a consultoria ambiental Greenspirit Strategies.

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