Coluna da Terça-feira

Hip-Hop e Capoeira: onde tem cultura impera a paz

Mauricio Moromizato

Aconteceu nesse final de semana o terceiro HIP HOP DA PAZ. Estive presente no debate inicial, ocorrido na câmara municipal e nos eventos ocorridos na pista de skate. O evento reuniu grupos e pessoas de Ubatuba e de outras regiões, num clima de harmonia, cooperação e muita consciência. A dificuldade na organização, só superada pela dedicação dos organizadores (Bob, Kinho e companhia pelo hip-hop e Eltinho pelo skate) e pela colaboração da Fundação Alavanca, com a Sônia Bomfim e do professor Rui Grilo, entre outros tantos, foi recompensada com um evento muito bom.
No debate na câmara municipal, vi e ouvi jovens discutindo o futuro do movimento, criticando e se comprometendo a estudar para melhorar o conteúdo das letras, nos duelos de Freestyle. Vi e ouvi depoimentos maduros e consistentes sobre a vida, sobre o movimento hip-hop e sobre o município. A preocupação de todos em lutar pela paz, a crítica social consistente e a vontade de ser protagonista da própria vida e na vida da cidade puderam ser percebidas em todos os momentos.
Um grupo de três mulheres convidadas fez intervenções preciosas sobre a participação das mulheres, o conteúdo das letras, o compromisso moral e a atitude do movimento. Uma quase menina de Ubatuba testemunhou que o hip-hop mudou sua vida, que já estava se desvirtuando. Nos eventos musicais e esportivos do HIP HOP DA PAZ, o que vi foi um ambiente saudável, de alegria por ter algo para fazer na cidade e de ocupação de espaço público pela população.
No domingo também, convidado pelo mestre José Portes, do grupo GUELÊ DE CAPOEIRA, fui ao ginásio do tubão e me deparei com um evento envolvendo várias cidades, e novamente, muitos jovens, concentrados, felizes, orgulhosos, valorizados. Pude conversar com o mestre Oró, de Embú das Artes. Lá há um projeto da Prefeitura envolvendo a capoeira, para inclusão social e cultural.
Relato aqui essas experiências porque me permitiram observações, reflexões e conclusões:


1 – Os eventos tiveram componentes esportivos, de atividade física, tais como o “duelo de B. Boys” (desafios de break, envolvendo meninos e meninas), campeonato de skate e de basket streetball, e a capoeira enquanto atividade que mistura luta e dança;

2 – Os eventos foram claramente culturais. O Hip-hop com a música e o conteúdo de suas letras e com os shows que aconteceram. A capoeira com toda a sua história, sua origem na resistência dos negros;

3 – O componente social foi muito forte. Social no sentido de convívio entre as pessoas, no sentido de que foram atividades também de lazer e entretenimento. Muito além disso, foram sociais porque são duas atividades (capoeira e hip-hop) muito associadas aos negros e à periferia, mas que ocorreram no centro da cidade, com participação multi-racial e ocupação democrática do espaço urbano;

4 – Havia participantes de vários bairros, de outras cidades, de várias classes sociais. Havia disputas nas rodas de capoeira, no basket de rua, no Freestyle, no duelo de B. Boys. Tudo envolvendo jovens e não havia e nem houve necessidade de qualquer tipo de policiamento ou segurança; a PAZ imperou...;

5 – Tudo muito barato de fazer, exigindo pouca estrutura física e muito pouco dinheiro;

6 – É necessário, é urgente e é possível, promover e estimular atividades parecidas, envolvendo esporte, cultura, lazer e inclusão em todo o município. Como exemplo, a capoeira e o hip-hop deveriam ter incentivo para promover esses eventos nos bairros, aos finais de semana, rotineiramente. Incentivo financeiro e em estrutura para levar aos bairros as atividades, valorizando seus habitantes.

Democratizar a cidade. Olhar diferenciado para os jovens, de todas as classes, de todos os bairros, de todas as origens. Compreender e valorizar as diferenças. O HIP HOP e a CAPOEIRA mostram a todos algumas “armas” sociais e como utilizá-las. Promover a PAZ é mais eficaz que combater a violência; estimular atividade física, valorizar a cultura, integrar a cidade é mais eficaz que combater o tráfico de drogas e outras formas de contravenção.
Parabéns a todos os participantes, simpatizantes e apoiadores do HIP-HOP e da CAPOEIRA. Vocês estão disputando efetivamente a cidade. Continuem em sua trajetória. Muita força a todos.
Mauricio Moromizato

Comentários

Anônimo disse…
OLá Muito bom o seu blog, gostaria de uma informação, voce saberia me informar aonde o mestre Jose Portes tem academia? gostaria de voltar a praticar capeira. O endereço ou telefone mesmo. me envie neste email:
alinefranck@uol.com.br
desde já Obrigada

Aline Franck

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