Coluna da Sexta-feira

Décadas

Celso de Almeida Jr.
Neste 15 de novembro, alcançamos os vinte anos da memorável eleição em que Nadim Kayat disputou a prefeitura de Ubatuba.
Um ano antes, em 1987, eu trancava a matrícula na faculdade de engenharia, em Itajubá, para mergulhar nessa campanha eleitoral que consolidou minha paixão pela política, já revelada no Colégio Deolindo.
Os amigos sabem o que enfrentei. Minha mãe, a educadora Prô Aninha, custou a aceitar esta decisão, para ela tão sem propósito. Abrir mão de uma escola federal, para uma professora, era inadmissível. Meu pai, homem criado em fazenda, sem medo do futuro, não viu mal algum.
Havia um tempero nessa história. O início de namoro com a Patrícia conciliou a minha vontade de participar da política da cidade com o desejo incontrolável de estar próximo da pessoa amada...
Com Nadim, eu ficava muitas horas conversando.
Ele presenciou momentos importantes da política paulista, no período anterior a 1964, quando os partidos funcionavam e preparavam seus jovens militantes para os grandes embates cívicos. Eu adorava as suas histórias envolvendo Rogê Ferreira, Lino de Mattos, Cantídio Sampaio, Orlando Zancaner, Brasil Bandecchi, Wladimir Pizza, entre tantos.
As palestras nos bairros ubatubenses, onde ele exaltava o exercício da cidadania, me entusiasmavam.
Em 1988, descobri na prática que campanha eleitoral exige muito capital. Íamos juntos ao Banco Econômico, onde a Cidinha, sempre atenciosa, já tinha separado os pacotes de dinheiro que o Nadim sacava de suas reservas. Eu tinha a tarefa de gastar, com parcimônia, claro.
Situações folclóricas eram comuns. Carolino, homenzarrão do Perequê-Mirim, arrastou-me numa volta olímpica, na final da Copa Nadim de Futebol. Eu, que de esportista não tenho nada, sem graça, cumpri o circuito concluído com um brinde de aguardente.
Ponha ardente nisso! Olhos lacrimejantes e orelhas ferventes revivem o trauma dessa experiência, toda a vez que alguém me oferece um destilado de cana. Felizmente, o limão e o açúcar ajudam-me a não causar desfeita a qualquer anfitrião desavisado.
Muitas lições ficaram daquela época. Muitas amizades nasceram ali.
Nadim ficou em terceiro lugar. O vencedor, Nélio, soube respeitar a nossa derrota, não tripudiando sobre os vencidos e seus eleitores.
A experiência político-administrativa do guerreiro de origem árabe foi oferecida ao eleitorado ubatubense, que buscou outra opção.
Mas, mesmo não ganhando, Nadim deu o seu recado.
Eis o ponto forte da democracia.
Toda eleição se transforma numa escola adorável, com professores e alunos para todos os gostos.
Aprender ou ensinar é só uma questão de sensibilidade e de compromisso com a cidade e sua gente.

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