A ponderar...

Tentativa de estupro... Da minha inteligência

Fernando Moreno

Desde que comecei a trabalhar no setor cultural eu sempre tive uma posição muito clara com relação à política: me abster das minhas ideologias, deixá-las quietas, só pra mim. No máximo mostrá-las pra minha sombra. Sublimei a verborragia política da juventude ou, como prefiro dizer, deixei na Urca, local onde estudei economia no final dos anos 90.

Nunca achei que cultura e política eram coisas que se misturavam. Não por conta da cultura, mas por conta da maioria dos políticos. Infelizmente, ainda somos uma nação onde a cultura, principalmente o Teatro, que é o meu segmento, é o supérfluo do supérfluo. Sendo assim, se já é complicado com eles, os políticos, o apoiando, imagine se eles o odeiam?!?

Moro em Ubatuba há dois anos e meio e continuo trabalhando no meu ofício, que é a produção teatral. Para ganhar a vida e sustentar minha família, faço um projeto de produção teatral que engloba as cidades de Caraguatatuba, São Sebastião e, em breve, a Ilhabela. Em Ubatuba, a cidade que escolhi para morar, trabalho voluntariamente para a Fundart, como conselheiro de Artes Cênicas e Dança.

Essa é a primeira eleição que presencio aqui, e fiquei bem empolgado, pois como sempre morei em grandes cidades, nunca tive a possibilidade de vivenciar tão de perto esse jogo que é uma eleição. Mas mesmo aqui me mantive neutro, não externei meu apoio a nenhum candidato. Dos quatro postulantes ao Executivo, conheço três pessoalmente e simpatizo com todos eles, cada um à sua maneira. Acredito nas boas intenções dos três e tenho certeza que eles fariam um bom trabalho à frente da prefeitura, como disse, cada um à sua maneira.

Escrevi esses quatro parágrafos de introdução, pra situar o leitor de que NÃO ESTOU APOIANDO NENHUM DOS CANDIDATOS, ou seja, não estou escrevendo isso para defender quem quer que seja.

Já recebi de tudo na rua ou na minha caixa de correio nessa campanha, desde os santinhos mais engraçados com os slogans mais “etílicos”, a jornais bem diagramados e até cópias de jornais que, naturalmente, são mal diagramados. Recebi cartas acusando candidatos de coisas que não considero acusações, pois não vivo numa época medieval. Li propostas estranhas, como a de um candidato que deseja fazer obras numa escola do Governo Estadual, mas nada me chamou tanto a atenção como o que recebi hoje, dia 3 de outubro, uma sexta-feira, antevéspera das eleições. Aquilo que, na minha opinião, é uma tentativa de estupro da minha inteligência. Um folhetinho xerocado (imagem acima) atribuído ao candidato da situação, onde uma pesquisa de um instituto sério dá resultados que poderiam ser viáveis e até possíveis, mas, pela pobreza de criatividade do autor em trabalhar melhor o texto e a arte, dão na cara que é “Factóide do Brabo”.

Vamos por partes pra facilitar a tentativa de mostrar aos leitores que meus neurônios não serão violentados. Primeiro ponto: O papel não está condizendo com o padrão gráfico do candidato em questão, ou seja, facilmente identificada a FRAUDE, ou melhor, a tentativa de FACTÓIDE. Segundo ponto: Se essa pesquisa realmente existiu, por que não foi protocolada e amplamente divulgada? Por que a divulgação dela só chegou à população por meio de papeis xerocados? Por mais que digam que os veículos de comunicação da cidade estão comprados, é impossível uma pesquisa dessa natureza ser realizada por esse instituto (Datafolha) e não ser publicada. Terceiro ponto: Um papel atribuído à Situação onde todo o texto só favorece a oposição? Onde está a lógica? Até minhas enteadas de 12 e 13 anos seriam capazes de ver que não tem nexo. Quarto e último ponto: Duas empresas sérias sendo mencionadas (SBT e Datafolha) e ninguém ouviu falar da reportagem na TV ou da pesquisa na cidade.

Desculpem a franqueza, senhores, mas quem quer que seja o autor desse papel, só pode estar sendo acometido da maior das diarréias cerebrais de que eu tenho notícia. Pois isso não convence a parcela que deve ser convencida da população, que são os indecisos, não atinge as pessoas que são mais importantes nesse coeficiente eleitoral que são as classes C e D, pois aquele emaranhado de números é “mandarim” pra eles e não alcança bons resultados, e, principalmente, uma boa imagem nas classes A e AB, pois elas têm a possibilidade de acesso à informação de forma privilegiada, o que as leva a pesquisar a fundo a informação e a descobrir o que está descrito no site do Datafolha (
www.datafolha.folha.uol.com.br) que se encontra na imagem abaixo.

Todo esse imbróglio, só me faz lembrar de uma declaração da época da Ditadura que me deixou perplexo. Essa declaração eu ouvi lá na Urca, numa das aulas do sábio Carlos Lessa. Uma frase que não lembro a quem foi atribuída, mas certamente era de algum dos políticos da Arena. A frase era a seguinte:

“Nós só temos sucesso nessa jornada (A Ditadura Militar), pois nossa oposição É BURRA e não consegue se unir, eles se dividem em vários, enquanto nós somos uma coisa só.”

Por conta dessa BURRICE nós pagamos por 21 anos com o Regime Militar e os resultados eu não preciso nem falar. A única coisa que eu tenho a dizer, num conselho àqueles que pleiteiam coisas novas para a nossa cidade, é que se unam, mas com inteligência, não achando que podem ser estupradores da inteligência alheia, organizem-se e esperem quatro anos, pois dessa vez, e mais uma vez, vocês perderam para vocês mesmos.

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