Pensata

Cassino

por Daniel Piza
A volatilidade começa na psique. Há quem acredite que, como as crises são inerentes ao capitalismo, a atual é apenas mais uma e brevemente estaremos de volta à festa da liquidez global, propiciada pelo admirável mundo novo da economia digital. Hoje uns perdem e outros ganham; amanhã isso recomeça naturalmente. Não há nada de errado no fato de um bando de nerds com gel no cabelo dar notas aos países como se estivessem no Second Life. A depressão de hoje é apenas a condição para a euforia de amanhã. Para outros, a depressão agora veio para ficar, salvo surtos de euforia. Assim como a ocupação do Iraque iria terminar como a Guerra do Vietnã, o neoliberalismo de Bush II só poderia culminar no fim do capitalismo e na obsolescência da América.

Só que o futuro é sempre mais complexo que as explicações. A crise é séria, e ninguém sabe se e quanto vai mudar o sistema econômico. O que se sabe é que ela é diferente das crises financeiras dos últimos dez anos, antes de mais nada porque nascida de uma bolha imobiliária, que afeta o crédito de muita gente. EUA e Europa estão em desaceleração forte, ao passo que os emergentes já não contam com as altas de preços internacionais. E a discussão sobre instrumentos como os derivativos, acessíveis a qualquer bancário na onda infinita da “securitização” (revenda de empréstimos), é essencial. Ela não nasceu ontem: basta lembrar o caso do ING Barings em 1995.

O capitalismo não chegou aonde chegou sem freios e mudanças de direção. Daí a repetir um velho presidente republicano dos tempos da Guerra do Vietnã, um tal de Richard Nixon, e dizer que “somos todos keynesianos agora”, vai enorme distância. Primeiro, porque os EUA têm sido relativamente “keynesianos” nestes anos todos, ao permitir um déficit público altíssimo para alimentar o consumismo de sua população, quase toda endividada em cartões de crédito a juros baixíssimos. Segundo, porque Keynes sempre foi o primeiro a defender os gastos públicos quando houvesse necessidade de “impedir ou compensar recessões”, como disse seu biógrafo, Robert Skidelsky; na frase do próprio Keynes, “um governo pode viver por esse meio quando não consegue viver por qualquer outro”. Ele não era um estatista, porque ciente de que intervencionismo excessivo e não seletivo causa inflação e ineficiência.
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