Opinião

A segunda-feira negra

Editorial do Estadão
O risco de uma crise financeira mais profunda e mais custosa para todo o mundo agravou-se desde ontem à tarde, quando o plano de socorro de US$ 700 bilhões proposto pelo presidente George W. Bush foi rejeitado por 228 votos a 205 na Câmara de Representantes dos Estados Unidos. Funcionários do Executivo e líderes partidários haviam negociado e reformulado o projeto em longas discussões durante o fim de semana. No domingo, a presidente da Câmara, deputada democrata Nancy Pelosi, havia anunciado um acordo. Haveria, segundo ela, apoio bipartidário ao projeto. Ontem à tarde, as cotações que já despencavam nas bolsas de valores desde antes do início da votação - transmitida pela televisão - aceleraram o ritmo de queda e uma nova onda de insegurança espalhou-se por todos os mercados.
Votaram contra a proposta 133 deputados republicanos - dois terços da bancada governista - e 95 democratas e, a favor, 140 democratas e 65 republicanos. De manhã, o presidente Bush havia defendido uma ação "audaciosa" para impedir o agravamento da crise financeira. "Uma votação a favor da proposta servirá para evitar danos econômicos a vocês e à sua comunidade", afirmou o presidente, dirigindo-se aos congressistas. Os deputados de seu partido não se mostraram tão audazes: preferiram seguir a tradição republicana, evitando mais uma grande intervenção no mercado e mantendo a retórica de proteção ao bolso do contribuinte. Mas apenas derrubaram o pacote, sem eliminar a crise nem tornar desnecessárias novas ações do governo. Prepararam um péssimo começo para o próximo presidente.
Segundo Bush, o Congresso enviaria "um sinal forte aos mercados, em casa e no exterior", se aprovasse a proposta. Com a rejeição, um sinal foi enviado, afinal, mas com a mensagem menos adequada ao momento. Na Europa e na Ásia as bolsas haviam fechado em queda, mais uma vez, pressionadas não só pela insegurança quanto à aprovação do pacote americano, mas também pela sucessão de novas notícias negativas. Na Europa, os governos da Bélgica, da Holanda e de Luxemburgo haviam posto mais de US$ 16 bilhões no Grupo Fortis NV, enquanto na Alemanha, governo e bancos ofereciam financiamento de até 35 bilhões de euros à holding Hypo Real, do setor imobiliário.
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