Ponto de vista

Fondue indigesto

Roberto de Mamede Costa Leite
Nesta terceira idade muitos fazem coisas indevidas. Aqui em casa, apesar de não sermos ratos, adoramos comer queijo. Queijo gordo, substancioso, confessadamente gostoso e prejudicial à nossa saúde. Coisa honestamente pecaminosa, mas consentida. Afinal, é dos poucos prazeres que nos restam. Hoje, ao término de nosso estoque de queijo amarelo, o procuramos em Ubatuba para comprar. Não encontramos. Contudo, no caminho atrás do queijo, fomos tropicando com candidatos. Todos registrados na Justiça Eleitoral e prometendo tudo.
Neste tudo que nos sugerem, quase nada há de execução factível. Com este espírito de prometerem o que não podem, o que puderem (é possível que não sejam capazes de distinguir o que de suas ‘competências’) não está nos planos dos ditos.Mesmo em tese.
Imaginem na prática dos eleitos ...
Nós teriamos o direito de acreditar que os eleitos seriam nossos representantes, como é o espírito do contrato social.
E os eleitores vocacionados e honestos teriam todo o justo direito de esperarem ser representados à altura.
Sempre o condicional, infelizmente, para as esperanças que sabemos inexistirem ...
Para os que votaram conscientes e esperançosos de boas mudanças, o ‘day after’ é um desespero, é um beco sem saída, é motivo para pesadelos pelo vácuo cívico, sem moral, sem ética.
A máxima, à cada eleição, infelizmente, é ‘um negro porvir’.
É sintomático que após um mês da eleição não lembremos do voto cometido, pois varremos nosso deslize, envergonhados, para baixo do tapete mental.
Episodicamente, como exige toda boa regra, há as exceções de praxe que mantém um fio de esperança até a próxima eleição.
Consola saber que nós, eleitores-representados, não podemos ser processados pelos deslizes de nossos ‘representantes’. Caso contrário, restaria negar nosso sufrágio secreto. Afinal, este tipo de negação, tão em voga nestes dias, impediria termos que pagar nossas defesas pelos malfeitos de nossos supostos representantes políticos.
Afinal, nunca antes em nossa terra, alegar ignorância conseguiu efeitos tão salvadores.
A ignorância auto alardeada consubstancia hoje, em nosso Brasil, a segunda substância que bóia no vácuo da responsabilização. É maracutaia nova, assemelhada e mais perigosa e repugnante daquela básica e conhecida. À grande massa de manobra ignorante falta informação e espírito crítico para perceber. Mesmo assim, para segurança da falcatrua, tudo é anestesiado por convenientes bolsas família que não os ensinam a pescar, e os forçam a continuar a não pensar, presos na ignorância e nos currais eleitorais. Infelizmente, não se pode deixar de sentir que a grande maioria é de candidatos de si mesmos, sempre sem o menos pudor ou senso de cidadania.
Voltando à vaca fria, em nossa andança de hoje, de queijo e/ou de bom senso cívico, nada achamos. Ofereceram-nos alguns Minas, sem gordura, sem substância, quase ricota. Era dose para leão depois das promessas que acima ouvimos. Cruz credo ...
Da política, candidatos os há muitos, sem substância, sem mensagem, sem inteligência e que, por determinação de nossa mais alta corte, até nem necessitam de ficha corrida limpa.
É básico esperar que quem nos representa, deveria fazê-lo bem. Afinal não somos eleitores de eleições na Mafia ...
Todos estão carecas de saber que a grande maioria dos candidatos não têm saber, vontade ou competência para a mínima representação, a não ser de si mesmos. Exercem o eventual mandato estribados no ‘jogo de cintura’, no máximo, sem qualquer preocupação com potenciais aspectos morais, sociais ou éticos de seus atos. Caso agíssemos como São Thomé, quantos deles resistiriam à extração de uma ‘capivara’ ? É sabido que o Supremo Tribunal Federal os liberou totalmente. Podem ser eleitos. Mesmo os mais facinorosos, apesar de condenados sem trânsito em julgado aos mais hediondos crimes. Não seria o caso de que constasse exigência legal na sentença de cada Instância sobre a inegibilidade imediata ou não do condenado ?
Das exceções à regra acima, aos candidatos vocacionados e motivados de civismo e cidadania, faltam-lhes votos, pois incapazes de prometerem o impossível. Serem coerentes é de suas naturezas honestas e fora do foco dos currais eleitorais.
Já ouvi que o voto da maioria é naqueles que apresentam, mesmo remotamente, esperança de fazer seu eleitor participar de bom negócio. Assim, quantos eleitores pedem e esperam coerência ???
Nossa Justiça é tardia, para dizer o mínimo. E todos somos inocentes até julgamento final. Isto posto, todos compreendem o caminho das pedras. Para o bem e para o mal. D”outro lado, julgar é trabalho que depende de procedimentos complexos e cansativos. De processos ultrapassados, de colcha de retalhos legal que contempla recursos de todo tipo, tudo impedindo decisão definitiva da Justiça.
Procedimentos legais complexos, especiosos e cansativos, à medida dos interesses de quantos se interessam que não se julgue ... Mais ainda: o julgamento feito, completamente, leva à decisão irrevogável.
Para que fim de situação que vai desagradar ? Tantos que hoje são a grande maioria dos que nos governam, em tantas esferas do ‘pudê’ ?
Julgar bem afasta, quase sempre, as indefensáveis defesas. Outro efeito desta conjuntura é que Julgar, definitivamente, determina o fim da labuta de quem, remuneradamente, defende,. Complicado. Das ‘vantagens’ deste sistema interminável que nos informe, entre tantos, Pimenta Neves e seus defensores ... No âmbito das excelência políticas, há que lembrar Jucá, Barbalho, Dirceu, Waldomiro e tantos outros ....
Voltando ao queijo gordo, substancioso, quem sabe o achemos, civicamente, após 2010, num ‘fondue’ sabático ?
Deste ágape de colesterol nos restará, eventualmente, uma cardiopatia. Das excelências que se propõe ao nosso voto obrigatório, certamente, restará, como sempre, uma flatulência cívica.
Há que viver para ver ...
Roberto de Mamede Costa Leite
Praia do Felix - Ubatuba

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