Poema da noite

O Engradado - Francis Ponge

Do Blog do Noblat
A meio caminho de engraçado e degradado a língua portuguesa possui engradado, simples caixote de ripas espaçadas fadado ao transporte desses frutos que, com a mínima sufocação, adquirem fatalmente uma moléstia.
Armado de maneira que no termo de seu uso possa ser quebrado sem esforço, não serve duas vezes. Desse modo, dura menos ainda que os gêneros fundentes ou nebulosos que encerra.
Assim, em todas as esquinas das ruas que levam aos mercados, reluz com o brilho sem vaidade do pinho branco. Novinho em folha ainda, e um tanto aturdido por se encontrar numa pose desajeitada na via pública jogado fora sem retorno, esse objeto é, em suma, dos mais simpáticos - sobre a sorte do qual, todavia, convém não repisar muito.

Francis Jean Gaston Alfred Ponge (Montpellier, 27 de março de 1899 — Paris, 6 de agosto de 1988) É, por excelência, o poeta das coisas que exigem definições, das coisas partidas, das coisas naturais, das coisas inanimadas e animadas. Ele descreve o universo, os meteoros, a chuva, o fogo.
Leia mais sobre Francis Ponge.

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