Opinião

Um drama que vem embalado

Washington Novaes
A campanha eleitoral na TV e no rádio mostra, principalmente nos grandes centros urbanos, uma temática semelhante, que quase se resume às questões dos transportes, da violência, da educação e da saúde. Quase não está presente nas propostas e discussões a questão dos resíduos, do lixo. E, no entanto, é das mais graves que enfrentam as cidades, das mais populosas às menores. Convém relembrar que já em 2002 eram coletadas 230 mil toneladas diárias só de lixo domiciliar e comercial no País (1,3 quilo por pessoa/dia), sem falar em resíduos de construções (mais que o domiciliar e comercial), lixo industrial, de estabelecimentos de saúde, lixo tecnológico e - ausência absoluta - lixo rural produzido principalmente pelos excrementos de mais de 200 milhões de cabeças de gado bovino, dezenas de milhões de suínos, bilhões de aves. Pouco se sabe também de quanto lixo urbano não é coletado. Fala-se em mais de 10 mil toneladas/dia. E em mais de metade dos municípios todos os resíduos vão para lixões a céu aberto.

Para demonstrar a gravidade da situação basta relembrar que a cidade de São Paulo está com seus aterros esgotados e terá de definir, em curtíssimo prazo, onde depositará as pelo menos 14 mil toneladas diárias de lixo domiciliar e comercial que gera. Curitiba também esgotou seu aterro. Belo Horizonte tem de mandar seu lixo para dezenas de quilômetros de distância. O Rio de Janeiro, que não tem área no município para colocar suas 9 mil toneladas diárias de resíduos e esgotou o Aterro de Gramacho - onde já há trincas perigosas e expulsão do lodo da base (era um manguezal) por causa do excesso de peso acumulado -, tenta licenciar outro aterro em Paciência. Convém lembrar ao eleitorado de todas essas cidades o que aconteceu em Nova York (EUA), que deixou esgotar seu aterro e tem de mandar 12 mil toneladas diárias para mais de 500 quilômetros de distância, em caminhões. Ou em Toronto (Canadá), que também manda 3 mil toneladas diárias para mais de 800 quilômetros de distância, em trem diário especial. A custos astronômicos.
Não bastasse o volume do lixo, é preciso acrescentar que a reutilização e reciclagem de materiais no País é muito insuficiente. As estatísticas dizem que só se reciclam em empresas 45,5% (2,8 milhões de toneladas/ano) do papel e papelão descartados, 45% do vidro, 24,2% das embalagens longa-vida (9,2 bilhões), 1 milhão de toneladas de plásticos e 95% das latas de alumínio. As usinas públicas de reciclagem paulistanas operam com menos de 1% do lixo total. E a esse panorama assustador veio, há poucas semanas, agregar-se mais uma preocupação: a liberação, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do uso de embalagens de PET para acondicionar alimentos e bebidas. Hoje, quase 50% do PET usado no País já não é reciclado. E se toda a produção de cervejas no País (9 bilhões de litros/ano) passar a ser envasada em PET, serão descartados entre 14 bilhões e 18 bilhões anuais de garrafas - agravando o problema dos aterros e das embalagens não recolhidas, já que não há retorno e reutilização. Não se sabe ainda como se resolverá juridicamente a questão de haver sido concedida pela Justiça Federal, em Marília (SP), medida que exige aprovação, pelo Ibama, de estudo de impacto ambiental para essa utilização do PET em cervejas.
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