Aventura

O resgate da mochila

Sidney Borges
Viajava eu no ônibus das sete quando subitamente me vi estacionado no acostamento, por sorte ao lado de uma parada de ônibus dessas que têm bancos e abrigo contra a chuva, se bem que não estivesse chovendo. O motorista acelerou o motor e ficamos estáticos por uns cinco minutos. Parece pouco quando a gente tem o que fazer, mas uma eternidade se você está esperando que alguma coisa aconteça. Depois de alguns momentos de acelera, desacelera, acelera, desacelera, fomos informados que viria outro ônibus. O nosso teve falta de ar. Seu Antenor tinha falta de ar quando a Sandrinha passava. Ele com 52, ela nos seus 23. Falta de ar de outro tipo. Sem a presença do fluido gasoso que envolve o planeta as portas do bagageiro não puderam ser abertas e o jovem gringo não pôde seguir conosco. Em Ubatuba é usual circularem andarilhos de estrada e jovens gringos. Andam sempre de bermudas, meias e sapatos e agasalhados. Nas costas levam a mochila e nas mãos o cajado. What for? Andarilhos e jovens gringos têm muito em comum, exceto por um pequeno detalhe. Andarilhos são solitários. Jovens gringos têm namoradas sardentas de saias compridas. Sem alternativa descemos para esperar o coletivo substituto e então aconteceu uma conferência informal no abrigo de chuva. Estavam presentes uma freira risonha, um policial militar parecido com o Sargento Garcia, um jovem ambientalista, uma cabeleireira falante e bem informada e o motorista. Excelente motorista, a cara do Zeca Pagodinho. E obviamente eu. Falamos de crimes bárbaros, da novela das oito, do tempo seco e a freira contou de uma viagem em que o ônibus quebrou nos Alpes. Logo chegou o outro coletivo. Embarcamos a tempo de não atrasar os compromissos em São Paulo, menos o jovem gringo e a namorada sardenta. Ficaram sozinhos no ônibus quebrado esperando o resgate da mochila. Não sei o que fizeram, mas na idade deles naquele ônibus vazio na beira da estrada eu saberia o que fazer.

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