Opinião

O reino da Grampolândia

Gaudêncio Torquato
No reino da grampolândia, o verbo ligar assim se conjuga: eu ligo, tu ligas, ele liga, nós ligamos, vós ligais e, depois de algumas contas telefônicas, somos todos grampeados. A generalização não é para menos. Quem grava conversas é a Polícia Federal (PF), que também é grampeada. Quem autoriza a escuta é juiz. Pois bem, magistrados da mais alta Corte do Judiciário garantem que também são espionados. Até Vavá, o irmão que o presidente Lula considera um ingênuo, foi flagrado com a boca na botija. Figuras de todos os naipes - juízes, empresários, banqueiros, políticos, doleiros - caem na rede. O grampo não é seletivo e desce a escada da fama para plugar mortais comuns. Zé liga para João, que se comunica com Antônio, que fala com Marcos. Na cadeia sociológica de grupinhos que se forma, simples ligantes se transformam em perigosos litigantes, envolvidos no contencioso formado pela aguerrida tropa da PF. Que é monitorada pela Agência Brasileira de Inteligência. Imagem tão canhestra lembra um cachorro agarrando o próprio rabo.

No exemplo do cachorro, a hipótese é de que o animal desconfie que o rabo não lhe pertence. Quer pegar o pedaço de outro. No caso da PF, a explicação aponta para uma arenga que vem lá de trás, com sopapos e refregas entre alas. Versões à parte, o que há é disputa por poder. Os núcleos de segurança são ninhos de cobras. Em outra frente, grupos do PT travam batalha esganiçada para expandir o domínio sobre a administração. O fortalecimento do núcleo mais próximo do presidente abre fissuras. Na perspectiva, os atores das bandas petistas divisam os horizontes eleitorais de 2010. As articulações de cunho político, como se pode inferir, acabam corroendo o tecido institucional. No Brasil é assim: o domínio pessoal invade o espaço público. As instituições se movem ao gosto (e humor) dos dirigentes.
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