Opinião

A China das pessoas

Fernando Henrique Cardoso
Estive na China nos dez últimos dias de maio. Na primeira vez que andei por lá, em 1995, era presidente da República. Em visita oficial se vêem muitos tapetes vermelhos, conversa-se com os líderes políticos, há muitos banquetes, mas pouco se vê do povo. Desta feita, viajando com um casal amigo, foi diferente: fomos ver a China do dia-a-dia, sem estatísticas ou relatórios oficiais.

Por onde passei vi obras em andamento e me entusiasmei com a grandiosidade, tanto nos aeroportos e terminais de Beijing ou de Xangai como na longínqua cidade de Urumqi, na região autônoma de Xinjiang, que faz fronteira com o Casaquistão e a Mongólia. A cidade, plantada no Deserto de Gobi, tem cerca de 3 milhões de habitantes, um enorme aeroporto, hotéis de luxo, muitas fábricas e é um centro comercial que espalha produtos por toda a Ásia Central. Cidades bem menores, como Turpan, no Xinjiang, ou Dunhuang, num oásis da vizinha província de Gansu (uma das mais pobres da China), dispõem também de razoável base urbana com certo dinamismo.
Eu esperava ver Beijing transformada, mas não tanto: avenidas largas com edifícios modernos. A Cidade Proibida não perdeu o charme e prova que vem de longe o senso monumental na China. Hoje os monumentos são de uso público: o enorme e belo estádio da Olimpíada ou o teatro nacional em forma de gigantesco ovo de avestruz. Diante deles a Praça Tiananmen, se não se apequenou - o que seria impossível -, fez do retrato de Mao um detalhe menor, até porque encolheu.
A realização da Olimpíada dá ensejo a obras urbanas mesmo em pequenas cidades e serve para reafirmar os avanços alcançados. Mormente agora, com os terremotos e inundações a desafiar a capacidade de resposta do governo à tragédia. Em mais de uma ocasião nossos interlocutores mencionaram com emoção que o presidente Hu Jintao e seus ministros estão percorrendo as áreas afetadas, cena rara num país em que o poder era distante do povo. Agora a TV o mostra próximo.
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