Opinião

O governo não quer deter o desmatamento

Editorial do Estadão
Não provocou a menor surpresa a notícia de que só em abril último se desmataram na Amazônia 1.123 km², praticamente a área do Rio de Janeiro. Também não surpreendeu ninguém a informação de que o desmatamento acumulado na região, nos nove meses a contar de agosto do ano passado, destruiu a cobertura vegetal de 5.850 km² - quase o quádruplo da cidade de São Paulo. Isso representa um acréscimo de 15% em relação ao período de 12 meses terminado em julho de 2007 e reverte a tendência de queda dos três anos precedentes - ao mesmo tempo que mostra que essa oscilação de tendências não é conseqüência de qualquer ação do governo. Em duas décadas, a motosserra abateu algo como 17% dos 4 milhões de km² da maior floresta tropical do globo. Ou, como prefere o engenheiro Gilberto Câmara, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), cujos dados provêm de dois sistemas de monitoramento por satélite, "é um campo de futebol arrasado a cada 10 segundos".
O Inpe estima que o balanço final de 2008 confirmará a piora, voltando-se a alcançar, quem sabe, a marca assombrosa de 20 mil km² desmatados (ante 11,2 mil km² no ano passado). Isso porque o desflorestamento costuma se intensificar entre maio e julho, quando a diminuição das chuvas facilita a circulação no interior da floresta . "Colhe-se o que se plantou", avalia o ambientalista Roberto Smeraldi, diretor da organização Amigos da Terra. "Você aumenta a exportação de ferro-gusa com carvão da floresta nativa, triplica os frigoríficos, titula ocupações de até 1.500 hectares, licencia obras ilegais e não cobra as multas: depois espera o quê?" A conclusão escancara o abismo entre os fatos evidenciados e a rósea retórica do presidente Lula, para quem "o Brasil, mais que todos os outros países, dá um exemplo de preservação para o mundo".
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