No ar

Exibicionismo aéreo

Sidney Borges
Eu já encontrei coisas estranhas no ar, folhas de jornal flutuando na base das nuvens, bandos de andorinhas girando a três mil metros de altura e gansos migratórios. Quando você vê uma coisa dessas e não há como comprovar é bom não comentar na hora da cerveja. Vira gozação. Lembro-me do Samuca que visitou a Embraer e viu o “canhão de frango”, dispositivo que lança aves para testar pára-brisas. Evidentemente aves depenadas, dessas que a gente compra em supermercados. Uma vez, em Bauru, ele falou sobre isso e teve de engolir a pergunta sobre a “metralhadora de pintinhos”. Pois eu tive também uma história não comprovada que não contei para ninguém, pois só eu vi. Foi em Tatuí, numa tarde de verão feita especialmente para se voar de planador. As térmicas eram fortes e a base alta, voei mais de cinco horas entre a Fazenda Ipanema, Tietê e Itapetininga, foi um dia glorioso. Quando o tempo finalmente amainou, isto é as térmicas cessaram já era quase noite e o Sol principiava a tangenciar o horizonte. No momento que decidi que era hora de ir para casa eu estava sobre a rodovia Castelo Branco, talvez uns quarenta ou cinqüenta quilômetros fora da pista e com três mil e quinhentos metros de altura, isto é com folga para chegar e ainda sobrevoar um pouco o campo. Foi quando eu vi uma bola escura no ar, do lado da fazenda do Airton Senna. Fui para lá, o ar calmo me permitiu voar no limite do Quero-Quero, cento e oitenta quilômetros por hora. Cheguei rápido, era um balão de ar quente, enorme, colorido. Dei uma grande volta em torno dele e cheguei bem perto. Na cesta de vime duas pessoas me acenavam. Um homem e uma mulher. Continuei dando voltas e eles começaram a se beijar. Fiquei curioso, a cena foi ficando quente e eles começaram a tirar as roupas. Continuei girando e quando dei por mim eu estava exatamente no cone da pista, uma volta a mais e eu não conseguiria retornar. Rumei pata Tatuí, onde pousei direto, sem tráfego. Até hoje fico pensando no que aconteceu naquela cesta, de qualquer forma eu não iria ver muita coisa, as bordas altas não permitiriam. Foi divertido. Pena que tive de guardar para mim, ninguém iria acreditar mesmo...

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