Águia de Haia
Holanda, anos 80
Sidney Borges
Sou branco como um lençol, mas meus cabelos um dia foram castanhos escuros e por isso fui chamado de “dark man” (homem escuro) na Holanda. Não foi por mal nem por preconceito, é que apesar da brancura no Brasil, terra mulata, sou quase mulato no hemisfério norte, especialmente na Holanda, cujos habitantes são alvos qual bichos de verdura. Tal fato me veio à cabeça ao recordar um ex-colega de tempos televisivos, muito talentoso e um tanto ingênuo. Acreditava sempre nas versões oficias. Não que eu não acredite, é que a gente sabe que quem conta um conto aumenta um ponto e vai daí... Meu colega é de sangue luso-árabe e é sabido que os mouros permaneceram na Península Ibérica por 800 anos e isso resultou em um rapaz de cabelos e olhos negros, com a particularidade de arregalá-los ao reforçar a expressão. Tal ascendência o tornava passível de ser confundido com um árabe, na época da história que estou contando povo de péssima reputação na Europa, alguns extremados tinham seqüestrado e explodido aviões. Estávamos em Haia e meu amigo lembrou-se de Ruy Barbosa. Afirmou que todos na cidade conheciam o brasileiro genial. Um gozador provocou:
- É mentira, pura propaganda, aqui ninguém sabe que esse cara existiu. O desafio colou, decidido a provar sua tese ele fez sinal para um garoto de quinze ou dezesseis anos que passava, branco como a neve, com cabelos vermelhos como a bandeira do PT. O garoto parou a bicicleta e educadamente escutou a pergunta:
- Do you know the eagle?
- I beg your pardon.
- Ruy Barbosa, the brazilian eagle!
- Which eagle?
- The brazilian eagle!
O garoto começou a ficar assustado quando o irritadiço colega arregalou os olhos e passou a agitar os braços, imitando uma ave enquanto gritava: the eagle, the eagle, the eagle.
Jamais saberei o que se passou naquela rubra cabeça flamenga, sei que o jovem montou na bicicleta e tratou de escafeder-se. Deve ter pedalado até cruzar a fronteira da Bélgica, o que não é tão difícil na Holanda.
Sidney Borges
Sou branco como um lençol, mas meus cabelos um dia foram castanhos escuros e por isso fui chamado de “dark man” (homem escuro) na Holanda. Não foi por mal nem por preconceito, é que apesar da brancura no Brasil, terra mulata, sou quase mulato no hemisfério norte, especialmente na Holanda, cujos habitantes são alvos qual bichos de verdura. Tal fato me veio à cabeça ao recordar um ex-colega de tempos televisivos, muito talentoso e um tanto ingênuo. Acreditava sempre nas versões oficias. Não que eu não acredite, é que a gente sabe que quem conta um conto aumenta um ponto e vai daí... Meu colega é de sangue luso-árabe e é sabido que os mouros permaneceram na Península Ibérica por 800 anos e isso resultou em um rapaz de cabelos e olhos negros, com a particularidade de arregalá-los ao reforçar a expressão. Tal ascendência o tornava passível de ser confundido com um árabe, na época da história que estou contando povo de péssima reputação na Europa, alguns extremados tinham seqüestrado e explodido aviões. Estávamos em Haia e meu amigo lembrou-se de Ruy Barbosa. Afirmou que todos na cidade conheciam o brasileiro genial. Um gozador provocou:
- É mentira, pura propaganda, aqui ninguém sabe que esse cara existiu. O desafio colou, decidido a provar sua tese ele fez sinal para um garoto de quinze ou dezesseis anos que passava, branco como a neve, com cabelos vermelhos como a bandeira do PT. O garoto parou a bicicleta e educadamente escutou a pergunta:
- Do you know the eagle?
- I beg your pardon.
- Ruy Barbosa, the brazilian eagle!
- Which eagle?
- The brazilian eagle!
O garoto começou a ficar assustado quando o irritadiço colega arregalou os olhos e passou a agitar os braços, imitando uma ave enquanto gritava: the eagle, the eagle, the eagle.
Jamais saberei o que se passou naquela rubra cabeça flamenga, sei que o jovem montou na bicicleta e tratou de escafeder-se. Deve ter pedalado até cruzar a fronteira da Bélgica, o que não é tão difícil na Holanda.
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