Crônica



Visão fugaz do Paraíso

Era um dia normal de atendimento na Santa Casa de Ilhabela, eu fazia uma visita a um paciente recém operado e presenciei um diálogo na enfermaria que vale à pena ser contado.
Em um dos leitos havia um homem de idade avançada, internado em estado de coma por diabetes. Medicado e recebendo todos os cuidados necessários, em certos momentos o coma se tornava superficial e o paciente voltava à consciência.
Num desses instantes veio a pergunta clássica de quem acorda em lugar estranho:
- “Onde estou?”
O acompanhante, membro da família, visivelmente cansado da indagação recorrente respondeu baixinho, em tom de padre:
- “Você está no Paraíso meu filho...”
O homem ficou espantado e perguntou aflito:
- “Então eu morri?”
A resposta foi imediata:
- “Sim meu filho, você morreu, eu estou lhe reconhecendo. Você não é filho do Baiano?"
Dessa vez o homem pensou um pouco antes de concluir:
- “Você sabe o nome de meu pai, então eu também o estou reconhecendo, você, digo o senhor, deve ser São Pedro, o santo da devoção de meu pai.”
Depois desse diálogo inusitado o paciente entrou novamente em coma aparentando felicidade, com um sorriso nos lábios. A visão celestial deve ter feito bem, o caso praticamente perdido reverteu e dias depois ele foi-se embora imaginando ter conversado com o porteiro do céu. Pelo menos que eu saiba tal encontro ainda não se deu.

Ricardo Cortes

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