Respondo ao Mino

Sobre Copas e Copas

Sidney Borges
Caro Mino: Volto à minha tese primordial, se os torneios impropriamente chamados de campeonatos mundiais fossem disputados na modalidade de turno e returno, o Brasil não seria apenas penta, teria mais títulos. Seria pouco provável a repetição da derrota para o Uruguai em 1950. Concordo que a Hungria de 1954 fosse o melhor time, mas um dia conversando com o meu saudoso amigo, Osvaldo Brandão, fiquei sabendo que o fator surpresa teve peso determinante na derrota brasileira. Brandão, a seu modo, era adepto de Sun Tzu, de A Arte da Guerra, buscava informações, queria saber tudo dos adversários. Quando o Ajax se tornou campeão europeu ele estava lá, assistindo à final. Na copa de 74 a Holanda surpreendeu o mundo com o fantástico carrossel de Rinus Michels, eu modestamente tinha conhecimento que algo novo estava acontecendo no futebol. Brandão era polêmico, perguntei a ele como poderíamos ter vencido a Holanda. A resposta foi Ademir da Guia. Alguém precisava ter habilidade para parar a correria, reter a bola. Imagino que as coisas teriam sido diferentes com o divino em campo. Não vou me alongar nessa copa, a Holanda nos bateu com méritos, mas o time do Brasil estava fora do padrão, desorganizado, lembrava a confusão de 1966. Vamos pular a copa de 1978, quando os acontecimentos extra-campo tiveram papel relevante no resultado, embora os jogadores da Argentina tenham lutado bravamente e não possam ser culpados pelas manobras da ditadura. Em 1982 aconteceu a tragédia de Sarriá. Não concordo com a sua visão do time brasileiro e sinceramente não acredito que em uma série de partidas o Brasil perdesse da Itália, time por time o Brasil era melhor. Jogava mais bonito, tinha mais criatividade, mais punch. Perdeu, é do futebol, é o que torna o esporte bretão que consagrou Cafuringa tão interessante. Perdeu por culpa de erros primários e também por culpa de Paolo Rossi, um matador que não perdoava. Alguns jogadores acabaram crucificados, especialmente Toninho Cerezo, é da vida, nas derrotas há que haver um culpado. Por mais competentes e aplicados que sejam, até os maiores craques cometem erros, não fosse assim o futebol terminaria, pois os jogos acabariam sempre empatados e a galera perderia o interesse. Em 1986 perdemos tantos pênaltis que a derrota foi merecida, incompetência explícita. O Brasil era superior à França, naquela ocasião um time sem maior expressão. Por falar em França, temo que os deuses do futebol nos estejam castigando pelo campeonato de 1958. Enfiamos sete azeitonas nos franceses, apenas cinco foram válidas, sem que houvesse razão para que as duas outras não o fossem, fora a vontade do árbitro. A magnífica França, do fantástico marroquino Just Fontaine, o maior goleador de todas as copas. Na copa de 90 fomos despachados pela Argentina. A imprensa crucificou Lazaroni e Dunga, surgiu até o termo “Era Dunga”, pejorativo, para mim injusto, Dunga era um craque, um tanto italiano, objetivo, mas um craque. A derrota aconteceu por culpa da habilidade de Maradona. Contra a genialidade não há argumentos. Ganhamos em 1994 sem empolgar, só o baixinho Romário empolgou. Não sei se foi obra de Havelange a saída de Maradona, mas convenhamos, aquela caramunha frente às câmeras teve alguma importância. A Argentina tinha um craque que dava prazer ver jogar, Redondo, que depois defendeu o Real Madrid. Em 1998 perdemos a final. Normal, a França esteve melhor naquele dia e poderia até ter goleado. Ganhamos 2002, sem comentários, não foi uma copa tão empolgante. Em 2006, guardadas as proporções, tivemos a repetição da desorganização de 1966 e 1994. Há nas entrelinhas dos seus textos um ponto com o qual concordo totalmente, o futebol brasileiro tende à entropia , quando há controle nos tornamos quase imbatíveis. Parece que o ponto nevrálgico da sua defesa da superioridade do futebol italiano está centrado na demonstração de que os tempos de retranca e correria acabaram. Não tenho elementos para contradizê-lo, divido o meu tempo de apreciação futebolística entre os diversos campeonatos europeus, embora tenha especial apreço pela península. De qualquer maneira o futebol evoluiu em toda a Europa, os campeonatos são disputados e o espetáculo vale à pena. A Itália estará sempre entre os favoritos de qualquer campeonato que participe. No entanto, o futebol tem suas características, no Brasil apreciamos o drible, a finta, a magia em detrimento da organização, os garotos dos campos de terra buscam aprimorar essas características. Não sei como é na Itália, mas não deve ser diferente, afinal de contas jogar futebol é uma manifestação de alegria e nada mais alegre do que um drible bem aplicado. Vou prestar especial atenção ao futebol italiano. Dos craques que você citou eu me recordo de ter comentado com meu saudoso pai, com quem assisti ao jogo de Sarriá. Joga muito esse Scirea.

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