A ponderar...

O perigo da privataria atômica

Elio Gaspari em O Povo de 21/07/2007
Está chegando às prateleiras um livro pequeno (190 páginas), cativante e útil. É "O bazar atômico - A escalada do poderio nuclear", do jornalista americano William Langewiesche. Ele lida com um assunto relevante, diante do qual, como sucede com as células-tronco e a gripe aviária, a maioria das pessoas acredita ter perdido o fio da meada. O "Bazar" dá combustível ao curioso para acompanhar a questão por um bom tempo. Quais são as chances de um grupo terrorista ou um governante aventureiro conseguirem dois tijolos de 35 quilos de urânio enriquecido? Grosseiramente, quem conseguir pode parar numa esquina, colocar um dos tijolos no chão e jogar o outro em cima (com alguma precisão). Se tiver êxito, destrói um bom pedaço de qualquer grande cidade. Se a grande explosão falhar, outra, menor, detonará só um quarteirão. Quantos são os fregueses para esse tipo de encomenda?

Talvez 20

Um dos méritos de Langewiesche esteve em lidar com um cenário desses sem o facilitário do sensacionalismo. O livro conta duas boas histórias. A primeira é simples: onde se pode tentar comprar os tijolos? Na Rússia, mais precisamente no depósito de Mayak, perto da fronteira do Casaquistão. Não será fácil tirar a mercadoria de lá e é mais seguro atravessá-la na rota da droga, até a Turquia. Uma piada do mercado negro diz que um saco de maconha é o melhor esconderijo para um tijolo de urânio. Desde 1989 registraram-se 18 casos de desvio de material nuclear russo, mas ninguém conseguiu urânio enriquecido. Langewiesche esteve em Mayak e sua descrição dos depósitos é neutra. Limita-se a mostrar que não há chance para um comando à la Jean-Claude Van Damme. As possibilidades são outras. Na sua segunda história, o "Bazar" conta como o paquistanês Abdul Qadeer Khan, um engenheiro obstinado, ególatra e corrupto, conseguiu se transformar no maior proliferador de armas atômicas de todos os tempos. Ele construiu bombas para seu país e, provavelmente, vendeu equipamentos para os norte-coreanos. Seu negócio acabou-se em 2004, quando os americanos apanharam-no mandando centrífugas para a Líbia. Khan só foi bem-sucedido porque o sistema de vigilância internacional era inepto. Quem se lembra do acordo nuclear Brasil-Alemanha e do programa secreto dos anos 70-80 vê que o Brasil chegou ao meio do caminho de produzir esse tipo de maluco. Langewiesche não ameaça o sossego dos leitores. Apenas ensina que "a nuclearização do mundo tornou-se uma condição humana, e nada se pode fazer para mudar isso".

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