Opinião

Água fria na fervura

Editorial do Estadão
A incursão das forças colombianas contra um acampamento das Farc localizado no lado equatoriano da fronteira - da qual resultou a morte do Raúl Reyes, segundo homem na hierarquia da organização terrorista - constituiu, sem dúvida, uma violação da integridade territorial e da soberania do Equador. Mas o incidente não provocaria as reações que tiveram os presidentes Rafael Correa, do Equador, e Hugo Chávez, da Venezuela, se os dois não estivessem cada vez mais comprometidos com as Farc.
Há alguns anos, aviões e helicópteros colombianos invadiram o espaço aéreo brasileiro em perseguição a narcoguerrilheiros. Detectados pela defesa aérea do Brasil, os aparelhos colombianos recuaram. O Itamaraty apresentou à chancelaria colombiana enérgicos protestos, recebeu garantias de que fatos como aquele não mais ocorreriam e o incidente foi encerrado aí. Mas o mais importante é que o governo brasileiro tomou providências para evitar a infiltração, em nossas fronteiras, de narcoguerrilheiros das Farc, porque são eles, e não as Forças Armadas colombianas, o fator de instabilidade na região.
Mas os atuais governos do Equador e da Venezuela não pensam assim. Há vários meses, o governo colombiano vem advertindo as autoridades do Equador a respeito da existência de acampamentos das Farc em seu território - e a resposta invariável era de que a denúncia não procedia. O governo de Rafael Correa argumentava, ainda, que mantinha uma posição de neutralidade em relação ao conflito interno colombiano, o que agora se sabe que não era verdade.
O governo da Venezuela, por sua vez, há muito tempo aceita a presença dos narcoguerrilheiros em seu território, seja em bases de descanso e treinamento, seja em entrepostos para o tráfico de cocaína - a principal fonte de renda das Farc, à frente da rendosa indústria do seqüestro e da extorsão. E o presidente Hugo Chávez tem usado suas boas relações com os dirigentes das Farc para pressionar politicamente o presidente Álvaro Uribe, que acusa de ser lacaio do imperialismo ianque. Além disso, agora se vê que Chávez tem sobre Rafael Correa uma ascendência maior do que se imaginava.
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