Opinião

Sensação de roubado

Mauro Chaves
Os que acham que se está fazendo muita celeuma em torno dos cartões corporativos, que existem problemas muito mais importantes a serem resolvidos no País do que a briga de oposicionistas com governistas na CPI dos Cartões, que se exagera nas acusações de chantagem por meio de sórdidos dossiês de novos aloprados, ou que é simples mesquinharia a insistente cobrança da quebra de sigilo dos gastos presidenciais, com certeza ainda não descobriram a "sensação de roubado" que acomete o povo brasileiro, depois de se ver tão afanado por agentes do Estado. As vítimas de roubo costumam sofrer uma auto-avaliação de incompetência, negligência e impotência, sentindo-se culpadas por não terem sabido proteger o próprio patrimônio. Bem, em se tratando do eleitorado, essa culpa às vezes se justifica plenamente. Mas o importante é perceber que a "sensação de roubado" rebaixa a auto-estima, que tanto se pretende elevar no povo brasileiro.

O eminente tributarista Renato Ferrari já sintetizou (em seu livro Em Busca da Paz Tributária, pág. 58) o ponto mais sensível da relação Estado-cidadãos, nestes termos: "O Estado, sendo um meio e não um fim, deve servir ao homem e à sociedade e não servir-se deles; e sendo o Estado um ente abstrato, servir-se deles significa dizer o proveito pessoal, pelos agentes públicos, da sua condição de componentes e representantes do Estado, no plano concreto".
Realmente, a sociedade brasileira se sente cada vez mais indignada com o "proveito pessoal", por parte dos que compõem os quadros de gestores públicos de todas as esferas - especialmente as mais altas -, dos recursos, extraídos pelo Estado, do esforço de trabalho dos cidadãos contribuintes. Ela não se conforma - para dar exemplo que se tornou bem emblemático - quando o presidente de uma entidade de fomento científico, que desviou dinheiro público da ciência para a decoração de luxo do apartamento de um servidor (o já famoso reitor do saca-rolhas de R$ 859), apenas reconhece, candidamente, que "o dinheiro poderia ter sido mais bem empregado" - e fica tudo por isso mesmo.
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