Angra 3. Sim ou Não?

A posição do Greenpeace
Folha de S. Paulo 28 de Novembro de 2007
Atenção ao uso da energia nuclear

Frank Guggenheim e Beatriz Carvalho G. Santos
O atual governo federal segue a tendência histórica de tratar a questão nuclear com a aura do segredoDesde a construção da primeira usina nuclear do mundo nos anos 50, existe uma polêmica quanto à necessidade e os riscos desse tipo de energia. Nesse meio século desde então, os argumentos a favor e contra essa tecnologia não se renovaram, assim como não se renovou a tecnologia utilizada.
No Brasil, a tecnologia nuclear foi importada dos Estados Unidos e da Alemanha durante a ditadura militar por um governo autoritário, que não se prestava a dar maiores informações à população quanto aos verdadeiros propósitos da corrida pelo domínio da tecnologia atômica.
Na metade deste ano, o governo do presidente Lula anunciou oficialmente a retomada do programa nuclear brasileiro, por meio da determinação de construção da usina nuclear Angra 3. Até a semana passada, os argumentos oficiais passavam pela necessidade de diversificação da matriz energética e do desenvolvimento tecnológico brasileiro, além da pungente necessidade de uma energia "limpa" para mitigar os efeitos do aquecimento global, propósito para o qual a geração nuclear seria eficiente.
Os quase R$ 8 bilhões de investimentos necessários para a construção da usina, os sete anos que se irão transcorrer até que ela entre em funcionamento, a gravidade e as extensões no tempo e no espaço de um acidente nuclear, a falta de solução definitiva para o armazenamento do lixo radioativo, o fato de a maioria dos produtores históricos de energia nuclear ter congelado a construção de novas usinas e estar em processo de descomissionamento das que já possuem, nada disso entrou na conta de contras que pudessem demover o governo de se lançar nessa aventura.
No entanto, a exploração da energia atômica sempre serviu a um propósito menos honroso e infinitamente menos popular do que a mera geração de eletricidade: a fabricação e o uso militar de armas atômicas.Segundo Robert Oppenheimer, físico norte-americano que chefiou o projeto Manhattan para a construção das bombas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, "quem disser que existe uma energia atômica para a paz e outra para a guerra está mentindo", não fazendo questão de esconder que exatamente a mesma técnica pode ser usada tanto para gerar energia quanto para fabricar a bomba.
Há alguns dias, fomos brindados com uma nova linha de argumentação em defesa do uso de energia nuclear no Brasil, agora apontando para a direção que sempre, em uníssono, negaram os assessores do nosso presidente. A energia nuclear deverá ser empregada para fins militares, foi a mensagem que se pôde destacar da fala do ministro Nelson Jobim durante a quarta Conferência Internacional do Forte de Copacabana.
Segundo o ministro, porque o Brasil possui uma grande reserva de petróleo, deverá utilizar-se de um submarino nuclear que faça a sua proteção contra possíveis ataques externos, inclusive terroristas. Seguiu-se a essa declaração outra, a de que o aditivo ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear deverá ser visto com reservas, uma vez que cria maiores mecanismos de controle sobre o uso da energia nuclear pelos países signatários.
O atual governo segue a tendência histórica de tratar a questão nuclear com a aura do segredo, por meio de declarações eufêmicas que ora descartam, ora sugerem o uso militar da energia atômica.Não nos esqueçamos de que foi o atual presidente da Eletronuclear, o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, quem comandou um programa nuclear paralelo, iniciado em segredo durante a ditadura militar e assim mantido até que a mídia passou a divulgar a informação de que estava em andamento um programa nuclear com finalidades exclusivamente militares.
É fundamental que a população esteja alerta e ouça com atenção o que está -e principalmente o que não está- sendo dito nas declarações oficiais do governo Lula. Sempre haverá a possibilidade de que novos motivos, esperados ou não, possam justificar uma nova mudança no discurso e o acionamento das nossas instalações nucleares em nome da segurança nacional.
Frank Guggenheim, médico doutor em imunologia, é diretor-executivo do Greenpeace Brasil. Foi diretor da divisão farmacêutica da indústria Roche, onde atuou de 1988 a 2000.
Beatriz Carvalho G. Santos, advogada, é coordenadora da campanha antinuclear do Greenpeace.

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