Pensata

Diogo, O Terrível

João Pereira Coutinho

É um dos meus desportos favoritos: chegar ao Brasil e falar, em tom blasé, de Diogo Mainardi. "Você leu a coluna dele na Veja? Muito boa", digo eu. O meu interlocutor cai num silêncio sepulcral. As veias do pescoço vão inchando como em certos filmes de vampirismo. O sangue concentra-se todo na cabeça. Os olhos, vermelhos e irados, saem das órbitas. A boca espuma. Os queixos tremem. Alguns levam a mão ao braço esquerdo e pedem uma ambulância. Deus do céu, eu já perdi a conta dos infartos, ou das ameaças de infarto, que a minha perversidade provocou em São Paulo e no Rio. Diogo Mainardi não é um colunista. É uma assombração.
Curioso. Irônico. Paradoxal. As mesmas pessoas que desmaiam na minha frente com o nome de Mainardi não desmaiam com uma elite política corrupta que usa dinheiro público tradução: dinheiro dos brasileiros para suas negociatas. O mal não está em quem rouba. Está naqueles que denunciam o roubo. Em condições normais, um país estaria grato aos jornalistas que vigiam e criticam o poder. Mas o Brasil não é um país normal. Aliás, Portugal também não é e pressinto aqui uma cultura histórica comum: quando um colunista abre a boca para criticar o governo, ele não critica o governo. Ele é um demente, um invejoso, um fracassado. E, em caso de discórdia, os leitores, para não falar dos colegas de ofício, não estão dispostos a contra-argumentar. Mas a censurar. O ideal não é discutir. É silenciar. Na impossibilidade de fuzilar. Curiosas mentalidades.

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Comentários

Anônimo disse…
Citei comentário seu em matéria sobre a quaresma. Abraço
Anônimo disse…
Concordo cm você, Sidney, a imprensa investigativa é chamada de PIG, isto é, Partido da Imprensa Golpista. Aqui no Brasil, cargo é status e não carga sobre os ombros pelo bem comum. Além de que estranhas associações estão por trás de algumas marionetes do poder pensando nos seus próprios altos destinos políticos e não no serviço à nação ou ao próximo que o cerca. A honestidade está em baixa e a ética nem se fala. Como o dinheiro público é uma varanda para o umbigo destes poderosos (não todos), tudo o que venha a incomodar seus planos de poder, mesmo contra o bem comum, é um estorvo. "Convém que ele morra!", já falavam os fariseus a respeito de Jesus. Imagine o Diogo Mainardi e muitos outros que acreditam no jornalismo!
Há muito rabinho sujo por aí, infelizmente.

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