Opinião

O santuário profanado

Em fins de janeiro, quando saíram as mais recentes estatísticas sobre o desmatamento da Amazônia, mostrando que a derrubada voltara a aumentar nos últimos cinco meses de 2007, revertendo a tendência dos três anos anteriores, a primeira reação do presidente Lula que chegou a conhecimento público foi a de convocar uma reunião ministerial, em caráter de urgência, e de anunciar medidas duras contra os presumíveis responsáveis pelo estrago. Não se sabe o que aconteceu em seguida na intimidade palaciana, mas o fato é que, passado um punhado de dias - e de novo parecendo justificar a sua auto-avaliação como a ''''metamorfose ambulante'''' celebrizada pelo compositor Raul Seixas -, Lula deu de soltar o verbo para cima da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, em plena queda-de-braço com o seu colega da Agricultura, Reinhold Stephanes, sobre a validade dos novos dados e as causas do surto que neles se exprimia.
Com efeito, nunca antes na história do seu governo, o presidente desautorizara a sua colaboradora - ou qualquer outro deles - com palavras tão acintosas. Primeiro, ele a acusou de fazer um alarde comparável ao do portador de um ''''tumorzinho'''' que não espera a biópsia para se declarar canceroso. Horas depois, rebaixou o ''''tumorzinho'''' à ''''coceira'''' que, pelo desconforto que provoca, leva o paciente a se imaginar vítima de grave doença. Não obstante, como é do seu feitio, para agradar ao outro lado, Lula não deixou de considerar preocupante o aumento do desmate, advertindo que o governo não será tolerante com ''''essa gente'''' que derruba árvores ilegalmente. Até o mais distraído dos brasileiros, porém, terá percebido que o que Lula pensa verdadeiramente do problema estava no carão passado à ministra - e na sua solidariedade com o ''''parceiro'''' Blairo Maggi, o rei da soja que governa Mato Grosso, outro inimigo de Marina.
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