Barbárie

Ingrid Betancourt e os outros reféns

Mauro Santayana
Não importam as escolhas ideológicas e políticas da senadora Ingrid Betancourt, nem a temeridade de arriscar-se a viajar, em campanha eleitoral, por uma região sob a influência das guerrilhas. Não importa a História da Colômbia, com seus ditadores, seus pequenos chefes regionais, sua violência tradicional. Não se encontra em causa o narcotráfico, o domínio do país por 200 famílias, as ditaduras abertas ou dissimuladas. Nem está em causa a presença no país de "consultores militares" de Washington. Despreze-se, nesse caso, o confronto histórico entre direita e esquerda, entre crentes e não-crentes, europeus e indígenas, exploradores e explorados. O que importa é o sofrimento dessa senhora, hoje enferma e há seis anos em constante peregrinação pelas selvas colombianas.
A posse de reféns, com objetivos políticos, é tão antiga quanto a História. A mitologia - esse estranho espelho da realidade - mostra que até os deuses disso se valiam para o exercício do poder. Os deuses, construídos pela angústia dos homens, sempre foram astutos ou violentos, a fim de preservar o domínio ou conquistá-lo. Entre os mortais não houve conflito histórico que não tivesse reféns. Alguns prisioneiros eram logo convertidos em escravos; outros, se tinham algum poder ou dinheiro, permaneciam à espera da concessão política dos inimigos ou do pagamento de resgate.
Reis, como é o caso de Francisco I, da França, foram transformados em reféns pelos vencedores. No caso do soberano francês, prisioneiro de Carlos V, depois da decisiva derrota em Pavia, a captura resultou do açodamento em oferecer combate quando as condições eram adversas. O cativeiro foi particularmente doloroso para ele e para a França. Salvou-o a frase famosa, endereçada à mãe: ele perdera tudo, menos a honra. Mesmo assim, foi obrigado a deixar os filhos como reféns do adversário, em penhor do cumprimento de tratado danoso para o seu país.

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