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Uma estrela vermelha no jardim

Demétrio Magnoli
Na América hispânica, a piñata é um boneco artesanal de papel, recheado de doces. Em ocasiões festivas, as crianças rompem a piñata a pauladas, apropriando-se do máximo de guloseimas que conseguirem capturar. A Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) tomou o poder na Nicarágua em 1979, derrubando a ditadura de Anastácio Somoza. As propriedades do clã do ditador foram transferidas para o Estado e os dirigentes sandinistas passaram a viver em mansões que pertenceram aos Somozas. Dez anos e uma guerra civil depois, a FSLN viu-se obrigada a promover eleições, que perdeu. Dias antes da entrega do poder, os sandinistas passaram um decreto, alcunhado como Lei da Piñata, pelo qual as mansões se converteram em propriedade privada de seus ocupantes.

Daniel Ortega, o presidente sandinista, tornou-se proprietário de sete imóveis. Tomás Borge e Bayardo Arce, altos dirigentes da FSLN, também participaram da divisão do butim. Depois daquele ato, os sandinistas aliaram-se aos antigos somozistas, tanto na política quanto nos negócios.
No ano em que se dissolvia a guerra fria, a piñata sandinista descortinou hipóteses insuspeitadas de articulação entre o Estado, a riqueza privada e os dirigentes de esquerda. A Nicarágua é um país muito mais simples que o Brasil, mas o paradigma estabelecido por Ortega inspira o lulo-petismo na sua trajetória de associação com a ''''burguesia nacional''''. A aquisição da Brasil Telecom (BrT) pela Oi (ex-Telemar) é um desenvolvimento estratégico da piñata lulo-petista.
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