São Francisco, o rio do meu país...

Quando as águas chegarem lá

Almyr Gajardoni
Os adversários da transposição do rio São Francisco têm argumentos sólidos e convincentes para sustentar sua causa. O engenheiro João Alves Filho, ex-governador de Sergipe, resumiu-os em quatro pontos básicos, em artigo publicado na Folha de S.Paulo:

1) a transposição não tem como objetivo salvar a população nordestina da seca, pois apenas uma pequeníssima parte da região semi-árida receberá a água para uso domiciliar; ela irá para o agronegócio, que a utilizará a preço altíssimo, o que inviabilizará sua condição de negócio, se ela não for subsidiada pelo governo, a vida inteira;

2) não há falta de água no Nordeste, ela existe em tal quantidade que daria para abastecer plenamente a população que ali vive; precisa ser tirada do fundo da terra, e isso também tem seu preço, menor, entretanto, do que aquele pago pela transposição do rio;

3) o Rio São Francisco está na UTI e a transposição poderá decretar sua morte;

4) Lula mentiu quando, para interromper a primeira greve de fome de dom Cappio, certamente com medo de perder a reeleição, prometeu discutir o assunto com ele, com a sociedade civil e com os movimentos sociais. Não fez nada disso.

O tiro final: uma parte apenas do dinheirão gasto com a transposição daria para implementar um amplo programa de construção de açudes, para regularizar o aproveitamento da águas das chuvas, abundante na região em certas partes do ano, e abrir poços que a tragam lá das profundezas.

A verdadeira questão que se coloca aí é aquela mesma que surgiu no começo do governo petista, quando foi criado o Bolsa Família: ele alivia a fome imediata, mas não resolve o problema verdadeiro, que é a exclusão social e econômica das populações beneficiadas. É claro que é mais urgente matar a fome e a sede daquela gente, mas também é claro que tanto o dinheiro do Bolsa Família quanto a água das cisternas permitirão, no máximo, mais conforto para que se perpetue a triste situação social, econômica e cultural ali vigente. Dar início ao aproveitamento das excepcionais condições de sol e calor ali reinantes para implantar uma sólida estrutura de produção de frutas, para as quais há mercados ávidos nos Estados Unidos e, sobretudo, na Europa, deve ser uma solução para o caso.
Leia mais

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mosca-dragão

Pegoava?

Jundu