Noite feliz

Lembranças natalinas

Papai Noel de roupa vermelha, gordo e de barbas brancas foi uma criação encomendada pela “L'acqua nera dell'imperialismo”, como Palmiro Togliatti se referia à Coca-Cola, enquanto a colocava em copo alto com gelo, dose dupla de gim Gordon’s e casquinha de limão. Cuba um dia seria livre. Parece que o gentil velhinho nasceu na prancheta de um publicitário americano, em 1931, quem quiser mais detalhes que vá ao Google. Meu primeiro contato com o Natal e seu significado maior, ganhar e dar presentes, se deu por volta de 1951 ou 52, quando me tornei proprietário de um trenzinho movido a corda. Fiquei fascinado, os trilhos se encaixavam formando uma pista circular. Tentei desmontar a locomotiva para ver como funcionava, dentro de mim mora um Nero, meu pai não deixou. Passei ótimos momentos viajando naquele trem, o melhor presente que ganhei na vida, isto é, até hoje, sou otimista. A partir daquele Natal meu mundo passou a girar em torno das festas. Carnaval, São João e o tão esperado Natal. Infelizmente a vida nos reserva dissabores, no decorrer dos doze meses seguintes tive um choque, meu primo me cochichou que Papai Noel não existia. Jamais me esquecerei do dia revelador, na vitrola Luiz Gonzaga cantava os olhos furados do assum-preto, o que me entristecia. Naquela tarde ensolarada eu tinha mais uma razão para ficar amuado, Papai Noel era uma invenção para nos enganar, pobres crianças. Anos depois, na passeata, eu gritei a plenos pulmões: sciopero
, facciamo sciopero, viva Stalino, viva Kruschov. Ao meu lado Palmiro Togliatti sorriu aprovando. O tempo passa... Hoje sou consumidor de Coca-Cola. Coca zero, que fique bem claro. À noite vou enganar minha sobrinha, farei a voz: hô, hô, hô... Ela certamente vai fingir que acreditou, vai procurar o velhinho e dizer que escutou a risada. Isso já acontece há dois anos, depois vamos abrir os presentes, rir e nos divertir. Esse é o lado bom da experiência, cada vez precisamos menos, a presença de familiares e amigos é suficiente para uma noitada memorável... (Sidney Borges)

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