Política

Reeleição

Luiz Carlos Azedo
O endosso do presidente Lula ao projeto chavista foi um gesto de boa vontade com o colega, dirá o Itamaraty. Mas é interpretado como uma declaração de descompromisso com as regras do jogo democrático. Na verdade, Lula realimentou as especulações de que manobra para viabilizar um terceiro mandato. A sucessão de Lula, do ponto de vista das forças governistas, virou quebra-cabeças. É certo que o êxito do segundo mandato pode viabilizar a eleição de seu sucessor, mas Lula embaralha o jogo ao impedir que surja um candidato natural da base governista. Na verdade, estimula a proliferação de candidatos fracos no PT (Dilma Rousseff, Antonio Palocci, Marta Suplicy, Patrus Ananias, Tarso Genro) e inibe a consolidação de uma candidatura forte entre os aliados: Ciro Gomes (PSB). Com isso, a nova reeleição se torna a melhor alternativa para que a ampla coalizão de partidos que o apóia permaneça no poder.
Com a declaração de apoio a Chávez, Lula sinalizou que a limitação a dois mandatos não é uma questão de princípio para o Palácio do Planalto. A permanência no poder por longo período, com sucessivas reeleições, é apenas um problema de correlação de forças para estabelecer novas regras do jogo. Depois das eleições municipais, é provável que o projeto do terceiro mandato ressurja com toda a força. Afinal, basta uma maioria governista no Congresso aprovar uma emenda à Constituição e o povo a endossar num plebiscito. O terceiro mandato, assim, dependeria apenas do prestígio eleitoral e de uma decisão de foro íntimo de Lula em 2010.
O Brasil, porém, não é como a Venezuela. Decisão dessa natureza lançaria o país numa crise político-institucional mais grave do que a do vizinho. Aqui a regra vigente é a alternância de poder. Um partido político, legalmente, pode até ficar décadas no poder; um indivíduo, não. Como os partidos são notoriamente desunidos e frágeis, é difícil isso ocorrer. O PT, por exemplo, se distinguia dos demais partidos por sua coesão político-ideológica e estrutura de organização. Teria tudo para fazer o sucessor de Lula, quem sabe um José Dirceu, mas a crise do mensalão e outros senões atrapalharam o projeto partidário. Por isso, na base do "se colar, colou", Lula alimenta a tese do terceiro mandato no imaginário popular.
(*) Luiz Carlos Azedo é membro da Executiva Nacional do
Partido Popular Socialista (PPS) do Brasil.

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