Polêmica

As igrejas e os deuses sob ataque

Almyr Gajardoni
Nos últimos quinhentos anos, sobretudo, cada vez que a ciência fez uma descoberta importante e inovadora, precisou enfrentar resistências das igrejas, as cristãs em particular. No final do século 15, começo do 16, o astrônomo polonês Nicolau Copérnico, sendo ele próprio um servidor do Vaticano, guardou até a morte os originais de seu livro De revolutionibus orbium coelestium (Das revoluções do orbe celeste) no qual cálculos minuciosos e precisos atestavam que a Terra gira ao redor do Sol, e não o contrário, como se acreditava. Com medo da Inquisição, mandou imprimi-lo na Alemanha protestante e reza a lenda que, ao receber o primeiro exemplar das mãos de um mensageiro enviado às pressas, sequer teve tempo de folheá-lo – morreu instantaneamente. A Igreja Católica, na verdade, não lhe deu grande importância, no momento – mas na Alemanha protestante Martinho Lutero trovejou: “A Bíblia diz que Josué mandou o Sol e a Lua pararem no céu, e não a Terra”.
Referia-se ao episódio em que os judeus fugitivos do Egito, agora liderados por Josué, o substituto do patriarca Moisés, lutaram até o fim do dia para conquistar a cidade de Gabom na terra prometida e receberam de Jeová a dádiva de mais algumas horas de luz para consolidar a vitória.
Nos anos seguintes, o italiano Galileu Galilei, muito menos discreto do que Copérnico, fez um carnaval com a teoria heliocêntrica, construiu um telescópio e conseguiu ver quatro minúsculos corpos luminosos girando em torno de Júpiter, e não da Terra. Os sábios da Inquisição sequer concordaram em olhar pelo telescópio, como ele os desafiou – e não fosse Galileu um amigo do papa, teria acabado na fogueira, como Giordano Bruno. Quando completou seus cálculos, Copérnico recebeu de um assistente, tão bom matemático quanto ele, uma observação de surpresa: “Se for assim, Vênus terá fases, como a Lua”. Ao que ele respondeu, sabiamente: “Um dia o bom deus proverá ao homem meios para comprovar isso”. Além de Galileu, muitos outros cientistas, como Johanes Kepler, atestaram que os cálculos de Copérnico estavam corretos, e tinham os telescópios, cada vez mais precisos e poderosos, para o confirmar. Mas só em 1822 a Igreja, discretamente, retirou o De revolutionibus do Index de obras proibidas.

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