Editorial

Reminiscências

Nas empresas de comunicação existem momentos em que a hierarquia cede lugar ao lema “um por todos e todos por um” e diretores e contínuos dão o melhor de si em busca da informação. Acontece em ocasiões especiais e recebe denominação conforme as características do veículo. Na Folha era “Editoria de emergência”, na TV Globo e na TV Record não havia um nome específico, apenas convocação geral e suspensão de folgas e férias de quem estivesse por perto. Quando Tancredo Neves foi hospitalizado, primeiro em Brasília e depois em São Paulo, a TV Globo entrou em editoria de emergência. Como Editor de Arte da Central Globo de Jornalismo de São Paulo eu imaginei que viveria momentos de tranqüilidade, a chefia do Rio de Janeiro daria conta do atacado e nós em São Paulo ficaríamos com o varejo. A insustentável leveza do ser incumbiu-se de contrariar minhas expectativas. O imponderável lançou-me no olho do furacão. Tancredo está por um fio diziam os médicos. Tancredo se agarrava ao fio e de fio em fio a agonia durou quarenta dias e durante quarenta dias eu, com parcos recursos de filial, tive de prover o Jornal Nacional e os jornais locais enquanto o Rio fazia o mais completo necrológio de um quase Presidente da República. Tancredo morreu e nós terminamos o trabalho orgulhosos e entristecidos, nossa parte tinha sido feita, mas a esperança na democracia ficara turvada. Sarney tinha um pé no autoritarismo. A história mostrou que a transição estava consolidada, apesar dos cinco anos para Sarney o país avançou. Hoje estamos frente a um novo impasse, começa a rondar os céus da nação o abutre do autoritarismo. Apesar de termos uma constituição, sempre haverá quem queira violá-la. O primeiro foi Fernando Henrique Cardoso, que discursa bonito, fala em democracia, mas compactuou com o perigoso precedente anti-constituição quando aceitou a reeleição. Agora é o fantasma do terceiro mandato que nos assombra. O que fazer? O Ubatuba Víbora está em editoria de emergência permanente, sempre alerta e vigilante, pronto a denunciar tentações caudilhescas. Para encerrar, vocês sabiam que o deputado federal Paulo Salim Maluf está proibido de deixar o país? Caso ele que tantos adeptos possui em Ubatuba pise em França, onde é dono de magnífico apartamento, será imediatamente preso por ordem da Justiça americana. Um dia eu tive orgulho do pensar tucano, faz tempo, o Mário Covas ainda era vivo...

Sidney Borges

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