Dengue 1

53 municípios ignoram alerta e agora enfrentam surto de dengue

Outras 20 cidades que estavam sob controle também entraram para a lista de alerta ou emergência do governo


Lígia Formenti, BRASÍLIA
Quase metade dos municípios que hoje estão no topo da lista de dengue de seus Estados já havia sido alertada sobre o risco de epidemia no final do ano passado. Relatório Liraa (Lista de Índice Rápido de Infestação) do Ministério da Saúde feito numa amostra de 163 cidades do País indicava que 108 estavam em estado de alerta ou emergência. O aviso não surtiu o efeito esperado. Mesmo alertadas, 53 das 108 cidades não agiram de forma adequada e hoje figuram na lista dos municípios com maior número de casos em seus respectivos Estados.


O avanço da dengue no Brasil

Outras 20 cidades apontadas pelo relatório - divulgado ano passado - em situação de controle ou com números não informados também estão hoje nessa mesma lista. O País enfrenta hoje uma epidemia da doença, como admitiu o próprio ministro da Saúde, José Gomes Temporão. De janeiro a setembro, foram registrados 481.316 casos e 121 mortes. “As cidades não reagiram da maneira esperada”, avalia o secretário-adjunto da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Fabiano Pimenta. Ele conta que, na maioria dos casos, as cidades mantiveram as medidas preventivas de sempre. “Eles apostaram no batidão: trabalho de agentes de saúde, aplicação de inseticidas.” Um erro que, para Pimenta, pode ser atribuído ao descaso e à falta de conhecimento. “É preciso mais agilidade, criatividade. Integração entre ações de saúde com outros setores dos municípios”, afirma. Ex-secretário de Marília, e hoje secretário-executivo do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems), José Ênio Servilha Duarte pondera: “Ficou tudo no colo das secretarias de saúde. São elas as responsáveis por retirar pneus das ruas, providenciar tampas para caixas d’água, claro que assim não há como o trabalho dar bons resultados.” Pimenta avalia que, se todos municípios tivessem tomado as medidas adequadas, as proporções da epidemia de dengue neste ano teriam sido menores. “O estudo é divulgado em novembro justamente para dar tempo de administradores se organizarem antes do período mais crítico da doença.” Para o secretário-adjunto, no entanto, apesar da pouca eficácia apresentada até agora, o Liraa é um instrumento eficaz. O levantamento procura identificar, em cidades escolhidas por amostra, o índice de infestação de larvas do inseto transmissor da doença, o Aedes aegypti. Em locais onde a taxa fica acima de determinado patamar, é dado o alerta. “O relatório serve justamente para nortear ações municipais. Para que administradores possam concentrar esforços em áreas mais críticas.” Uma estratégia bastante racional na teoria. “Mas, claro, é preciso que ações adequadas sejam adotadas.” Semana que vem, agentes iniciam os trabalhos do levantamento do Liraa 2007. Neste ano, a amostra será a mesma: 170 cidades, espalhadas em todas as regiões do País. Em 2006, nem todos os municípios tiveram as informações validadas. Seja por não terem apresentado dados de infestação, seja porque os números foram considerados pouco confiáveis. Agora, um trabalho-piloto deverá ser feito também para avaliar a eficácia de outro método, que analisa o índice de infestação da fêmea do inseto, o vetor da doença. A idéia é comparar os dados com o índice de concentração de larvas para, num outro momento, verificar qual método é mais eficiente. Pode parecer um detalhe técnico. “Algumas cidades foram consideras livres de risco de transmissão. Pode ter havido um erro de avaliação”, admite Pimenta. “Mas não é regra. Em muitos casos, houve de fato prevenção pouco eficiente.” Na lista de municípios considerados livres do risco, mas que apresentaram alto número de casos em seus Estados neste ano estão Boa Vista (RR) e Vitória da Conquista (BA). Boa Vista registrou, até início de outubro, 1.481 casos. A taxa da incidência de dengue entre a população da cidade é de 576,11 casos por 100 mil habitantes. Para o Ministério da Saúde, incidência superior a 300 é considerada epidemia. Em Vitória da Conquista, o número é menor: 205, uma incidência de 69,68 casos por 100 mil habitantes. O combate à dengue é feito pelas três esferas de governo. Cabe ao Ministério da Saúde e às Secretarias Estaduais financiar as ações, orientar e fiscalizar. Os municípios são responsáveis por executar as atividades - cada dia mais vinculadas a obras de infra-estrutura. “Já se sabe que, sem saneamento, sem fornecimento de água constante, há sérias dificuldades para reduzir o número de criadouros”, observa Servilha Duarte. Neste ano, uma equipe da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) fez uma análise detalhada do programa brasileiro. Nele, identificou três pontos que é preciso aperfeiçoar: o índice de mortalidade, as campanhas e a gestão dos recursos. A campanha deste ano já foi alterada e se tornou mais regionalizada. Profissionais de saúde estão sendo treinados e um CD com explicações sobre a doença deverá ser enviado para médicos que estão no cadastro do Conselho Federal de Medicina (CFM). “A gestão está sendo discutida. Há pressão grande nos municípios para qualidade de atendimento. Mas, se não houver prevenção, ficaremos sempre à mercê do tempo. Nos anos em que chove mais, há mais casos da doença”, avisa Pimenta.

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