Mensalão
Nas mãos do PT
Ainda que se diga que cada um vota com sua consciência, já está demonstrado que não há consciência que resista a tantas e tão claras evidências das bandalheiras de Renan
Por André Petry em VEJA:
"O mensalão não foi uma obra criminosa do PT, mas um "erro" cometido por "algumas pessoas" que integram o PT. Há tempos essa catilinária está em público, inclusive na boca do presidente Lula. Virou mantra dos que até topam perder companheiros mensaleiros para preservar o partido. Relevemos que as "pessoas" que cometeram o "erro" pertenciam à cúpula do PT e até hoje têm controle de parte robusta da máquina partidária. Admitamos, para efeito de raciocínio, que o mensalão não foi cria do PT, mas de um punhado de petistas prematuramente aloprados.
Nesta semana, quando o Senado votar sobre a cassação de Renan Calheiros, o PT pode tirar a prova dos noves. Os petistas terão a oportunidade de mostrar se o argumento que separa o partido dos filiados tem alguma base real – porque o voto sobre Renan será voto de partido, e não de "algumas pessoas". Ainda que se diga que nesses assuntos cada parlamentar vota segundo sua consciência, e não conforme a orientação partidária, já está exaustivamente demonstrado que não há consciência que resista a tantas e tão claras evidências das bandalheiras de Renan Calheiros. Portanto, o voto desta semana é de partido, de bancada.
E o que fará o PT?
As sondagens de plenário dão como certo que, dos doze senadores petistas, quatro honrarão o passado, que já parece tão longínquo, no qual o PT desfraldava a bandeira da ética na política. São eles: Eduardo Suplicy (SP), Delcidio Amaral (MS), Flávio Arns (PR) e Augusto Botelho (RR).
E o que farão os outros oito senadores do PT?
No fundo, a votação do caso Renan colocou nas mãos desses oito petistas dois destinos graves. O primeiro é o destino do próprio PT. Mesmo que o PT represente hoje, no plano ético, menos do que um vago espectro do que representou um dia, talvez os oito petistas, cassando o mandato de Renan, indiquem que ainda existe alguma energia vital no partido capaz de reconduzi-lo a certas trilhas da decência. Absolvendo Renan, o PT estará a despedir-se do último resquício de sua própria história. E, desta vez, definitivamente não como "pessoas", mas como partido mesmo.
O outro destino que caiu nas mãos dos oito, embora também esteja nas mãos de todos, diz respeito ao próprio Senado. Há 100 dias, o Senado sangra com seu presidente afundando na lama. Com a absolvição de Renan, o sangramento pode evoluir para hemorragia – que, em vez de explosiva e barulhenta, tende a ser silenciosa, num misto de indiferença e desprezo. Afinal, o Senado dirá ao país que tudo pode: falsificação, mentiras, laranjismo, sonegação, lobismo... Com a cassação de Renan, o Senado ganha uma cicatriz, é verdade, mas terá o direito de apresentá-la como medalha de guerra.
A trapaça do destino colocou essas questões nas mãos de oito petistas. Entre eles, há gente grande como Aloizio Mercadante (SP), Tião Viana (AC), Ideli Salvatti (SC) e Paulo Paim (RS). Se eles se decidirem pela cassação, e mais três indecisos de quaisquer outras legendas fizerem o mesmo, Renan será banido da política até 2018. Nesta semana, esses petistas resgatarão um pedaço – ou enterrarão por completo – da bandeira ética que, um dia, pareceu ser levantada com orgulho pelo PT".
Ainda que se diga que cada um vota com sua consciência, já está demonstrado que não há consciência que resista a tantas e tão claras evidências das bandalheiras de Renan
Por André Petry em VEJA:
"O mensalão não foi uma obra criminosa do PT, mas um "erro" cometido por "algumas pessoas" que integram o PT. Há tempos essa catilinária está em público, inclusive na boca do presidente Lula. Virou mantra dos que até topam perder companheiros mensaleiros para preservar o partido. Relevemos que as "pessoas" que cometeram o "erro" pertenciam à cúpula do PT e até hoje têm controle de parte robusta da máquina partidária. Admitamos, para efeito de raciocínio, que o mensalão não foi cria do PT, mas de um punhado de petistas prematuramente aloprados.
Nesta semana, quando o Senado votar sobre a cassação de Renan Calheiros, o PT pode tirar a prova dos noves. Os petistas terão a oportunidade de mostrar se o argumento que separa o partido dos filiados tem alguma base real – porque o voto sobre Renan será voto de partido, e não de "algumas pessoas". Ainda que se diga que nesses assuntos cada parlamentar vota segundo sua consciência, e não conforme a orientação partidária, já está exaustivamente demonstrado que não há consciência que resista a tantas e tão claras evidências das bandalheiras de Renan Calheiros. Portanto, o voto desta semana é de partido, de bancada.
E o que fará o PT?
As sondagens de plenário dão como certo que, dos doze senadores petistas, quatro honrarão o passado, que já parece tão longínquo, no qual o PT desfraldava a bandeira da ética na política. São eles: Eduardo Suplicy (SP), Delcidio Amaral (MS), Flávio Arns (PR) e Augusto Botelho (RR).
E o que farão os outros oito senadores do PT?
No fundo, a votação do caso Renan colocou nas mãos desses oito petistas dois destinos graves. O primeiro é o destino do próprio PT. Mesmo que o PT represente hoje, no plano ético, menos do que um vago espectro do que representou um dia, talvez os oito petistas, cassando o mandato de Renan, indiquem que ainda existe alguma energia vital no partido capaz de reconduzi-lo a certas trilhas da decência. Absolvendo Renan, o PT estará a despedir-se do último resquício de sua própria história. E, desta vez, definitivamente não como "pessoas", mas como partido mesmo.
O outro destino que caiu nas mãos dos oito, embora também esteja nas mãos de todos, diz respeito ao próprio Senado. Há 100 dias, o Senado sangra com seu presidente afundando na lama. Com a absolvição de Renan, o sangramento pode evoluir para hemorragia – que, em vez de explosiva e barulhenta, tende a ser silenciosa, num misto de indiferença e desprezo. Afinal, o Senado dirá ao país que tudo pode: falsificação, mentiras, laranjismo, sonegação, lobismo... Com a cassação de Renan, o Senado ganha uma cicatriz, é verdade, mas terá o direito de apresentá-la como medalha de guerra.
A trapaça do destino colocou essas questões nas mãos de oito petistas. Entre eles, há gente grande como Aloizio Mercadante (SP), Tião Viana (AC), Ideli Salvatti (SC) e Paulo Paim (RS). Se eles se decidirem pela cassação, e mais três indecisos de quaisquer outras legendas fizerem o mesmo, Renan será banido da política até 2018. Nesta semana, esses petistas resgatarão um pedaço – ou enterrarão por completo – da bandeira ética que, um dia, pareceu ser levantada com orgulho pelo PT".
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