Cultura



Um pouco da história de Nei Martins

Carnaval de 1976. Nascia uma nova escola de samba em Ubatuba. "Mocidade Alegre do Itaguá" era o nome ideal para essa escola, que foi composta por um grupo de jovens amigos daquele bairro. Nei Martins era um dos componentes da "Mocidade" ubatubense. Para o primeiro de muitos carnavais que se seguiriam, o enredo do samba tinha que ser mais que perfeito. "Nós precisávamos de um enredo que tivesse a cara da cidade, da nossa gente, da nossa história. Decidimos por fazer um desfile que mostrasse a cultura popular do povo caiçara, conta Nei."
Foi durante a pesquisa que antecedeu a composição do enredo do Carnaval de 76, que Nei Martins percebeu o quanto os costumes e as tradições ubatubenses estavam se modificando. Cantigas, danças, comidas, roupas, modos de ganhar dinheiro... Tudo se transformava a olhos vistos, como a própria paisagem do município. Os costumes, antes adquiridos como herança de família num passado não muito distante agora vagavam, em fragmentos de memórias, aqui e ali. Não havia nada documentado em livros, a cultura caiçara estava ameaçada de extinção.
Naquele momento, um grande trabalho de resgate se iniciava na vida do jovem Nei Martins. Apaixonado pelos "causos", pela devoção religiosa e pelas manifestações artísticas dos caiçaras, ele começou a colher informações, depoimentos e imagens que remontassem a história. Passou anos, "proseando" com os antigos, anotando o que eles diziam. Nei acabou desenvolvendo um trabalho intuitivamente jornalístico, que descreve com detalhes personagens e experiências.
Dentro da simplicidade típica da maioria dos caiçaras, Nei sabia reconhecer a grandeza de um patrimônio imaterial. "As manifestações folclóricas fazem parte da história de um povo, uma gente que, muitas vezes, não sabe nem escrever o próprio nome, mas tem uma cultura popular riquíssima. Essa cultura está se perdendo, sendo esmagada pelas construções, pela modernidade e pelas novas culturas que migram e se misturam."
Sua missão não parou por aí. Durante os mais de 20 anos em que trabalhou na Fundart, organizou as mais tradicionais festas da cidade. Fandango, Ciranda, Chiba, Cana-Verde, Recortada, Dança da Fita, Corrida de Canoas, Peregrinação da Bandeira do Divino e Folia de Reis, exemplos de manifestações que misturam a devoção religiosa e a cultura popular. Sempre que tinha oportunidade, reunia os caiçaras mais antigos e os jovens que ainda se dispunham a participar, para mostrar ao público que a cultura não pode morrer. PMU

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