Pensata

Ares turbulentos

Hélio Schwartsman na Folha Online
Nós humanos não aceitamos bem o caráter fortuito de tragédias como o acidente com o Airbus da TAM, que provocou a morte de quase 200 pessoas. Temos uma necessidade quase física de encontrar explicações e, de preferência, apontar culpados.
Não estou evidentemente sugerindo que a queda do avião ocorreu "porque esta era a vontade do Senhor" e que devamos deixar tudo como está. Muito pelo contrário, precisamos tentar descobrir em detalhes o que aconteceu não apenas para aplacar nosso "desejo de entender" mas também para tomar as providências cabíveis a fim de que desastres semelhantes não se repitam. Há, contudo, uma diferença conceitual importante entre investigar cientificamente um acidente aéreo e erigir especulações feitas ainda sob o calor dos acontecimentos em acusações. Lamentavelmente, vamos ter de esperar ainda bastante tempo, talvez meses, antes de poder afirmar com alguma segurança o que saiu errado com o vôo 3054.
Para agravar um pouco mais as coisas, a aviação opera sob o primado dos sistemas redundantes. No caso das comunicações, há o rádio e o transponder. Eles se complementam, mas não se excluem. Um não "substitui" o outro --ou eliminaríamos a redundância. Para assegurar que o avião pare antes do fim da pista, existem os freios do trem de pouso, os freios aerodinâmicos e o reverso das turbinas, sem mencionar, é claro, as normas internacionais para o coeficiente de atrito do asfalto e o subitamente famoso "grooving", as ranhuras que auxiliam a drenagem do pavimento. Como nem sempre tudo está funcionando em 100%, é relativamente fácil para cada uma das partes envolvidas encontrar um problema na seara da outra e, com isso, tentar furtar-se a suas próprias responsabilidades. É o que vemos agora, com governo, companhia aérea, Infraero, Anac etc. dando início a um jogo de empurra-empurra.

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