Ubatuba

“Lembranças”
Reflexões sobre a Santa Casa


Corsino Aliste Mezquita
Não pretendemos fazer história. Nosso intuito não é o de cantar maravilhas em prosa ou verso. Apenas retrocederemos algumas décadas, no tempo, para refletir sobre um tempo vivido por uma plêiade de cidadãos que sacrificavam parte de seu tempo, de seu lazer, de seu conforto e até de seus recursos para administrar, controlar, desenvolver e fazer funcionar a SANTA CASA DO SENHOR DOS PASSOS DE UBATUBA. Alguns já faleceram e deixaram saudades. Outros escolheram diversos municípios para morar. A grande maioria aqui permanece lutando para sobreviver, torcendo para não precisar da Santa Casa e sofrendo ao ver o único hospital do município em estado falimentar, sob a intervenção do Poder Executivo, sem planejamento, sem diálogo entre as partes e, pelas publicações, na imprensa, as manifestações do Corpo Clínico e os comentários da comunidade, sem o devido respeito aos direitos dos profissionais que lá trabalham ou trabalhavam e à comunidade usuária. É lamentável.
Transcorriam os idos de 1972-1973. Ubatuba abria-se para o mundo. Construção da rodovia, Rio-Santos, inauguração do prédio da EE.Cap Deolindo e imigração crescente. Até essas datas só um médico atendia os 17.000 habitantes estimados. Uma equipe de jovens médicos decidira vir para esta terra e arriscar um trabalho pioneiro. Construir partindo do nada ou do quase nada. Aqui fixaram suas vidas, organizaram suas famílias e, o mais importante, programaram-se para organizar a saúde do município partindo, como ponto de apoio, da VELHA SANTA CASA.
O caminho foi árduo. As carências enormes. Nada os intimidou. Os problemas eram resolvidos com a colaboração do Poder Executivo, Provedoria, Corpo Médico, funcionários e comunidade colaboradora. Todos unidos pelo único ideal de melhorar o atendimento à saúde da população e as estruturas para acompanhar o crescimento do município.
FREI PIO foi figura de destaque nesse impulso inicial. Provedor da Santa Casa até março de l975, mantinha, com a sua ASEL, 15 (quinze) “POSTOS DE SAÚDE”, do CAMBURI à TABATINGA. Os postos da Região Norte eram visitados por mar, utilizando seu famoso barco. Trabalho de herói, pioneiro e desbravador.
Voltemos à Santa Casa. Em 1975 foi inaugurada nova ala do hospital. Enfermarias, apartamentos, centro cirúrgico. Posteriormente nova cozinha, centro pediátrico, salas de administração. Equipamentos novos e modernos. O único hospital, apesar das dificuldades, acompanhava o crescimento da cidade. O número de médicos crescia de ano a ano. Poder Público, Provedoria, Corpo Clínico, Administração, sentavam-se, freqüentemente, em volta da mesa e, em diálogo franco e construtivo, com sabedoria e inteligência os problemas eram resolvidos. Não existiam dívidas, salários atrasados, inadimplência de encargos, atrasos nos pagamentos dos fornecedores. Os médicos eram remunerados dignamente mesmo que os ganhos fossem módicos. Médicos, suas dignas esposas e familiares trabalhavam junto com a Diretoria e a Administração, nas campanhas que a Santa Casa organizava. Não existiam: politicalha, desvios, candidatos a heróis ou salvadores da pátria. Era a Santa Casa do Senhor dos Passos de Ubatuba. Hospital, beneficente, humilde, honesto e sério.
A partir da década de 1990 as coisas começaram a mudar. A Diretoria sofreu de suposto uso político e outros interesses dominaram alguns diretores. O fato ocasionou o afastamento de pessoas que muito colaboravam com o hospital. Com a aposentadoria da Sra. Izelita Maria Ribeiro que, durante quinze anos, administrou o hospital com mão firme, presença constante e honestidade a toda prova começou a debandada. Houve retração de receitas. Desvios foram denunciados. Encargos foram ficando para depois e a dívida crescendo mês a mês.
O volume da dívida, bastante falada e nada divulgada, é recente. Em junho /1995 não atingia os R$ 200.000,00. Nos meses anteriores houve um processo de controle e redução significativa e os que estavam fazendo o controle tiveram que abandonar a diretoria porque sua integridade física estava em perigo. Denúncias, de desvios, ocorreram após 1995.
Cabe a Comissão da Câmara, presidida pelo Sr. Ver. Charles Medeiros, apurar a dívida, os responsáveis e divulga-la para o conhecimento de toda a comunidade. Guardar segredo, nestas circunstâncias, é colaborar com novos larápios.
A Equipe Interventora tem o dever de assumir que a situação atual é de sua inteira responsabilidade. Não há como se eximir dessa responsabilidade depois de 16 (dezesseis) messes de intervenção. Sintonizar-se com o “Corpo Clínico”, Enfermagem, Funcionários e Comunidade é urgente. Não é admissível que toda a comunidade sofra por atitudes impensadas e precipitadas de um suposto administrador pouco integrado com a comunidade hospitalar, desconhecedor da história e do respeito que é devido a todos que a construíram durante os últimos trinta e cinco anos.
Diálogo e respeito aos direitos de todos, são os únicos caminhos para resolver o caos.

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