A Saúde está doente...

Santa Casa Pede Socorro à População

Muito se tem falado nos últimos meses sobre a crise em que se encontra a assistência à saúde da população de Ubatuba. O acesso universal e igualitário aos recursos de saúde é um direito constitucional do cidadão e um dever do Estado.
Assim, diante da iminente possibilidade de o nosso único hospital vir a baixar suas portas, nosso prefeito viu-se obrigado a tomar a frente da administração da Santa Casa, contratando pelo prazo de seis meses um administrador de sua confiança para realizar a missão de salvar o hospital.
Nós, trabalhadores do hospital, recebemos com otimismo a medida, pois dependemos do hospital tanto para nosso sustento como para socorrer a nós e aos nossos familiares em caso de necessidade, assim como toda a população da cidade.
No entanto, aqueles que inicialmente se apresentaram como aliados em nossa já antiga luta pela melhoria das condições de trabalho e atendimento no hospital, foram logo revelando modos de agir e princípios não compatíveis com a ética, a responsabilidade e o respeito que devem prevalecer sempre, sobretudo em locais em que se lida com questões delicadas como a saúde e a vida de pessoas.
Espantosamente, uma das primeiras medidas, visando melhorar e baratear o atendimento foi declarar os médicos que desempenham tais atendimentos como inimigos do hospital e os maiores responsáveis pelo seu rombo financeiro.
Cortes e atrasos nos pagamentos começaram a ocorrer. Ao mesmo tempo, publicações repletas de insinuações e distorções foram fartamente veiculadas em toda a mídia, com o evidente objetivo de manipular a população. Há tanto tempo mal assistida e mal tratada em muitas de suas buscas por atendimentos em postos de saúde e hospitais, ávida por encontrar alguém que pudesse culpar pelo seu injusto sofrimento, muitos se deixaram facilmente convencer de que eram sim os médicos os responsáveis pelas dificuldades que encontram em acessar a saúde. Isto vem protegendo os reais responsáveis de serem cobrados e questionados em relação à eficácia das medidas que vêm adotando para sanar tais dificuldades.
Alguém pode acreditar que atitudes deste tipo contribuirão para a solução de algum problema? Generalizar acusações, manipular, desrespeitar direitos, demitir sem apurar, sem se preocupar se os vazios poderão ser preenchidos, gerando desassistência em plena epidemia descontrolada de dengue? É claro que maus profissionais não faltam em toda a rede de saúde municipal e, juntamente com os usuários, são os bons profissionais os primeiros a desejarem ver longe aqueles que não somam nada, tornando nosso trabalho mais pesado e comprometendo nossa imagem. Mas o que ocorre é que a existência de maus profissionais tem sido usada como pretexto para que todos sejam desrespeitados, cerceados em seus direitos e caluniados. Serão estes bons métodos para solucionar uma crise ou um conjunto de inconseqüências que levarão a saúde definitivamente ao caos?
Muitas crises terríveis já foram enfrentadas com bravura no passado e foram vencidas com esforço e sacrifício de todos: médicos, enfermagem, funcionários, administradores e usuários, mas desta vez algo novo está acontecendo que certamente levará a um desfecho diferente.
O que se vê agora com tristeza é a perda de profissionais muito queridos e cujo trabalho era essencial para a população. Eles não serão facilmente substituídos tão cedo. O que fez com que pessoas que já passaram por situações muito difíceis sem cansar, que trabalharam anos a troco de remunerações até simbólicas de tão irrisórias, atuando sem recurso material algum, por que agora desistiram de lutar?
Porque algo de muito grave esta crise tem de inédito: a indignidade com que os profissionais vêm sendo tratados. Somos apresentados como bandidos gananciosos e vagabundos à população. Vemos nossos esforços em nos desdobrar em mais trabalho, mesmo sem saber quanto e quando receberemos, serem respondidas com agressões, ameaças e ilegalidades. Todos estão muito próximos de seus limites, alguns já os ultrapassaram.
É chegado o momento de a população conscientizar-se de sua obrigação de cidadão de exigir seus direitos básicos, não mais se deixando iludir, não mais combatendo ingenuamente falsos vilões. Será mesmo aquele que escolheu como meio de vida tratar e aliviar sofrimentos o verdadeiro inimigo do povo?


Médicos da Santa Casa de Ubatuba

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