Arquitetura



"Momento é de revisão das cidades", diz arquiteto Paulo Mendes da Rocha

Por Fernanda Ezabella
SÃO PAULO (Reuters) - Para o arquiteto Paulo Mendes da Rocha, vencedor do prêmio Pritzker de Arquitetura deste ano, o momento atual é de desviar as metrópoles da rota de degradação.
"Estamos numa época de rever tudo. Acho que a arquitetura, cada vez mais, terá muita importância como opinião influente nas políticas de desenvolvimento, nas decisões sobre o que será a nossa cidade do futuro", disse o arquiteto de 77 anos à Reuters, em entrevista na quarta-feira.
Para o arquiteto, a ideologia colonialista de um passado recente deixou como herança um "caminho de discriminação e exclusão" que precisa ser revista.
"Estamos em um momento em que se considera nitidamente uma visão crítica do colonialismo e a construção da paz entre os homens através da questão da cidade, um recinto da convivência. A França enfrenta problemas com seu passado junto à Argélia, a Espanha junto ao Marrocos, a Holanda com Sumatre e Bornéu, e assim por diante."
Mendes da Rocha é o segundo brasileiro a receber o prêmio Pritzker, considerado um Nobel da Arquitetura, depois de Oscar Niemeyer, agraciado em 1988. A cerimônia de entrega acontecerá no dia 30 de maio, em Istambul.
Nascido em Vitória (ES), Mendes da Rocha passou grande parte de sua vida em São Paulo, onde começou a carreira nos anos 1950. Fez parte do grupo modernista liderado por Vilanova Artigas, no movimento conhecido como Escola Paulista de Arquitetura, nos anos 1960 e 1970, e foi professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.
Tem no currículo projetos polêmicos, como o pórtico de entrada da Galeria Prestes Maia, na Praça do Patriarca, e trabalhos unânimes, como a reforma na Pinacoteca do Estado de SP. Entre outros projetos na cidade estão a Galeria Vermelho, o Museu Brasileiro da Escultura, a loja de design Forma, além de algumas residências particulares.


Desastre?

Questionado então sobre o futuro da cidade caótica que é palco de tantos projetos seus, Mendes da Rocha não vacila. "São Paulo não pode ser um desastre", afirma.
"De tão recente e de tão rápido com que tudo isso foi edificado, em um espaço ainda in natura, não faz muito sentido dizer que a cidade então é um desastre, com tudo o que estamos vendo, congestionamento, falta de habitação", disse Mendes da Rocha. "Temos que transformar tudo isso, andar numa rota de correção sobre esses erros que são patentes. Nós temos muitos recursos hoje. Então uma cidade como São Paulo deve ser reestruturada, recomposta. Imagino possível reverter essa rota do desastre."
Sobre projetos recentes na capital paulista como os realizados no rio Tietê ou as propostas de demolição do Elevado Costa e Silva, o famoso Minhocão, e de uma área central conhecida como Cracolândia, o arquiteto observa que "são momentos de reflexão".
"De qualquer maneira, ninguém tem solução direta para certas coisas. O Minhocão é um instrumento útil, cuja utilidade pode ser sempre discutida", pondera.
"Em princípio, essas áreas se degradam porque são abandonadas. Nós temos que corrigir tudo isso e reocupar essas áreas com atividades fundamentais da cidade."
Para a revitalização do centro da cidade, um debate que vem sendo discutido há anos por prefeituras e Ongs, o arquiteto aposta na necessidade da volta imediata de empresas que deixaram a região.
"Creio que as instituições devem retomar as suas sedes para essas áreas centrais, na medida do possível o mais rápido possível", disse. "Não há razão para se estranhar que elas (áreas centrais) entrem em degradação. Não são os arquitetos que podem fazer milagre, é uma questão eminentemente política."
Entre os próximos projetos de peso de Mendes da Rocha está uma nova sede do Sesc no antigo prédio da Mesbla, no centro, para programações esportivas e culturais. Há também um projeto na Galícia, no noroeste da Espanha, na Universidade de Vigo.

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