Pensata

A matéria a seguir deveria ter sido publicada no Jornal Autêntico que acabou não saindo por problemas “técnicos”.

Mudando o imutável!

Em inglês existe a expressão wishfull thinking que traduzida ao pé da letra poderia ser "pensamento desejoso" ou "pensamento de desejo", sendo na verdade intraduzível. Na língua original tem uma força enorme, expressando que quem está acometido do sentimento, situa-se na posição de "pensador mágico", isto é, por força exclusivamente da vontade, acredita ser capaz de alterar a realidade. Mais ou menos como faziam nossos ancestrais pré-históricos ao pintar as paredes das cavernas onde viviam. Magia, pura magia, os traços magistralmente delineados na pedra, capturavam a essência da continuidade. Em 1950, eu não vi, mas relatos de meu pai, meus tios e meu avô, indicam que a nação brasileira, em sua totalidade, embarcou na onda do pensamento positivo, por ocasião da final da "Copa do Mundo". Nós nunca poderíamos perder aquele jogo, seria contra a lógica, contra os astros, contra a vontade dos deuses, contra o desejo de duzentas mil pessoas que se acotovelaram no maior estádio do mundo para ver o Brasil campeão! Não adiantou a força sobrenatural dos orixás ao nosso lado, o concreto do Maracanã, recém-construído, foi manchado para sempre pelas lágrimas de dor e frustração de um povo enlutado. Perdemos! Ainda hoje o choque não foi totalmente absorvido, paira no ar entre os sobreviventes da tragédia a síndrome de Gighia, carrasco do goleiro Barbosa. É fácil falar de acontecimentos passados, sendo impossível prever o futuro, com todo o respeito por aqueles que pensam diferente. Faço este nariz de cera para falar das previsões de crescimento dos países em desenvolvimento, na qual ocupamos o penúltimo lugar. Mais uma vez as projeções nos colocam em situação delicada. Precisamos crescer, mas infelizmente não vamos crescer, embora o presidente Lula afirme o contrário. Como eu gostaria que “pensamentos de desejo” dessem certo e o Brasil avançasse não cinco, mas oito, nove, dez por cento ao ano. Fico pensando em uma economia dinamizada, com pleno emprego, salários dignos e a sensação de vitória que só é sentida em ocasiões esportivas, mas que já não empolga tanto às massas. O Brasil possui massa crítica para iniciar a reação em cadeia, ou seja, temos condições de crescer e mudar o panorama que há. Parece que falta vontade política e determinação, além de mais empenho, como bem frisou o jornalista Elio Gaspari quando disse que seria importante que os membros do governo cumprissem expedientes de oito horas, como fazem os mortais que não pertencem à corte. Sei que o tema não é novo, mas sempre é bom lembrar que sem crescimento só a violência prosperará. O Brasil merece mais.

Sidney Borges

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