Cai a máscara

Os objetivos americanos foram atingidos, o petróleo do Iraque está à disposição de Bush e asseclas. O artigo a seguir, publicado originalmente no Blog do Noblat, me remete ao ano de 2003. Na época fiz considerações a propósito do despropósito da invasão e das razões apresentadas para tal. Infantis e tolas, bem ao gosto da mídia estúpida que só sabe dizer amém. Eu estava certo, não sei se felizmente. Com o petróleo em mãos amigas, os bravos soldados ianques já podem voltar aos lares e cartões de crédito. Missão cumprida. (Sidney Borges)

O petróleo e os talibãs americanos

Armando Mendes
Notícia na Folha de S. Paulo, republicando matéria do The Independent de Londres: o Iraque prepara uma lei que vai abrir as reservas de petróleo do país à exploração por companhias ocidentais.
O governo dos Estados Unidos está envolvido na redação da lei, assinalam os repórteres, sem maiores comentários. Nem precisava; o Iraque é um país ocupado militarmente.
Novidade seria o seu governo, que só existe por delegação dos ocupantes, fazer qualquer coisa sem que os Estados Unidos estivessem envolvidos - do enforcamento de Saddam Hussein à abertura dos poços de petróleo.
Segundo The Independent, a lei vai permitir que grandes empresas como a British Petroleum, Shell e Exxon assinem contratos de 30 anos para explorar petróleo no país. Seria a primeira vez desde 1972, quando o petróleo iraquiano foi nacionalizado, que companhias estrangeiras poderiam operar em grande escala no Iraque.
E mais: as multinacionais vão embolsar, no começo, até 75% dos lucros da exploração. Depois esse percentual cairia para 20%, ainda assim muito mais do que elas costumam ganhar em outros países da região, como a Arábia Saudita e o Irã, os maiores produtores do mundo.
A notícia traz duas lembranças: a primeira, lá do começo da invasão, é de como George W. Bush, Tony Blair, seus ministros e diplomatas (e os muitos escribas que os apoiavam) reagiam indignados, quase ofendidos, a qualquer insinuação de que o petróleo fosse um dos motivos ocultos da guerra do Iraque. Era ato falho, está claro.
A segunda lembrança é de um livro publicado nos EUA no ano passado: American Theocracy - The Perils and Politics of Radical Religion, Oil, and Borrowed Money in the 21st Century (Viking Press).
O título parece um saco de gatos, mas resume o livro: Teocracia Americana – Os Perigos e a Política do Radicalismo Religioso, do Petróleo e do Dinheiro Emprestado no Século 21. O autor, Kevin Phillips, é o que se pode chamar de um conservador em crise.
Phillips foi um estrategista político importante dos presidentes Richard Nixon e Ronald Reagan. Em 1969, com menos de 30 anos, previu a volta por cima do eleitorado religioso e conservador no final do século, depois do furacão liberal dos anos 60 e 70.
Pois esse guru da América profunda está hoje desencantado com o Partido Republicano e alarmado com o poder crescente da ultra-direita religiosa.
É gente ativa e organizada que não aceita a existência de uma esfera pública laica, abrangendo as instituições políticas, a justiça e a educação. Se pudesse, derrubaria a separação entre a religião e o Estado e instalaria um governo teocrático baseado em doutrinas bíblicas fundamentalistas.
Esses talibãs do cristianismo evangélico são os eleitores republicanos mais leais, aqueles com quem Bush sempre contou para manter o poder e lançar suas aventuras imperialistas (“petro-imperialismo”, é como Phillips batiza a política externa de Bush).
É uma barganha política, afinal - os amigos petroleiros de Bush ganham rios de dinheiro com o petróleo alheio, enquanto seus eleitores se preparam para o Apocalipse ocupando o Estado e impondo suas crenças. O resto do mundo que ouça os sermões e entre na linha.

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