Pinochet jazz

Grandes mentiras

Em 1965 o professor Fernando, de Português, propôs um trabalho extracurricular. A finalidade era mostrar que nem sempre é verdade o que sai nos jornais, principalmente em casos de conflitos. A idéia nasceu de um tema de redação: “a primeira vítima das guerras é a verdade”. Em 1965 o Vietnã estava em plena fervura, a teoria do dominó que afirmava que se uma peça do Sudeste Asiático caísse (fosse dominada pelos comunistas) o resto do continente também cairia, era aceita como verdade absoluta. Os editoriais do Estadão deixavam isso claro, razão pela qual o jornal foi escolhido para o trabalho. Todos os dias, exceto às segundas-feiras, quando não havia jornal, contávamos os mortos da guerra. Americanos e comunistas. Depois de três meses, com o auxílio do professor Ronaldo, de Matemática, fizemos uma projeção. Caso as baixas vermelhas continuassem no mesmo ritmo, em cinco anos não haveria comunistas no Vietnã. Estariam todos mortos e alguns chineses iriam de quebra. A verdade era outra. Os comunistas ganharam, apesar das mortes. Parece que se reproduziam às ninhadas, como coelhos. Morriam e renasciam com disposição redobrada de matar americanos. Com o fim da Guerra Fria os muçulmanos radicais tomaram o lugar dos comunistas. A história se repete, as notícias também. Morrem apenas inimigos. A guerra está ganha dizem os jornais. Os fatos aconselham prudência. A apregoada tecnologia que esquadrinha um palito de fósforo no meio do Saara, não desconfia qual seja o paradeiro de Osama Bin-Laden. Propaganda é bom para vender sabonetes, não funciona para ganhar guerras. Goebbels, o pai da estratégia de afirmar milhares de vezes uma mentira, até torná-la verdade, insistiu até o fim que a Alemanha venceria. Enquanto os russos dinamitavam a suástica do Reichstag ele afirmava: vamos ganhar a guerra, somos o “Reich de mil anos”. Ainda hoje Goebbels é cultuado como um gênio, quando nunca passou de um mentiroso convicto. A mentira é o ouro em pó dos ditadores. Pinochet que o diga, ou melhor, Pinochet não dirá mais nada. Está morto. Foi um grande mentiroso. (Sidney Borges)

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