Divagações filosóficas

Ano Novo

A questão do tempo é intrigante. O que é o tempo? Santo Agostinho, homem sábio, dizia saber do que se tratava, mas era incapaz de explicar. Esse artifício foi utilizado, ou melhor, ainda é quando professores de ciências precisam ensinar o uso da variável tempo no estudo dos movimentos. Movimento eis a chave da questão, se é que existe alguma questão ou alguma chave na tentativa de explicar o tempo, que a mim parece um rio que não constrói vales, mas vai passando e solapando as margens, como todos os rios. No caminho arrasta consigo a energia vital dos mortais. Com a chegada do fim do ano aparecem ilustrações de velhos com longas barbas representando o ano que finda e bebês gordos e rosados, de fraldas, no papel do ano que vai começar. E nós, onde ficamos? Permanecemos estáticos enquanto o tempo flui derrubando folhinhas e enchendo de rugas nossos rostos, ou estamos nos deslocando enquanto o tempo permanece imóvel, atrelado ao vazio infinito. Qualquer que seja a hipótese, em nossa frente há o futuro e atrás o passado. Estamos agora no presente, na verdade um local que raramente visitamos, já que é nosso costume viver fazendo planos para o porvir ou lamentando o que já foi. Essa é a visão do tempo de Newton, cuja essência a maioria dos mortais entende ou pensa que entende. O tempo de Einstein é outro, está associado ao espaço e flui de forma diferente para observadores que se deslocam. Por exemplo, no limiar de um buraco negro o tempo não passa, se um dia pudermos chegar lá, lá ficaremos por toda a eternidade, embora pesadíssimos, esmagados pela gravidade intensa. Caso exista o fluxo temporal será possível tirarmos dele alguma forma de energia, quem sabe a energia vital perdida no trânsito da existência. Eis aí uma boa idéia para o moto-contínuo: o tempo nos rouba beleza, mocidade e vigor, mas ao passar produz uma forma sutil de energia capaz de reverter o processo. Alquimia pura, se bem que teórica, já que não há aldeídos na aldeia e rareiam anelídeos albinos, sem os quais não há mágica. Feliz ano novo aos que me lêem, aos que ainda não o fazem e aos que jamais o farão. O tempo está passando. Rápido demais.

Sidney Borges

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mosca-dragão

Pegoava?

Jundu