Crônica

Cenas da vida

Seu Proença chegou do trabalho, vestiu a camiseta regata de sempre, acendeu um Lord Club e ligou o rádio para ouvir as últimas do Corinthians enquanto limpava a gaiola do cardeal. Dona Ofélia avisou que o almoço estava na mesa. Arroz, feijão, escarola frita e lingüicinha de porco. Seu Proença era um homem metódico, depois de tomar a tradicional Pirassununga, comeu fartamente. Como era costume, ele almoçou e foi para a varanda sentar-se na cadeira de balanço, palitar os dentes e escutar “O crime não compensa”. Ninguém jamais saberá se foi a emoção do programa ou o café da manhã com leite e manga. Ataque. Seu Proença teve um ataque. Morreu sem saber que o Corinthians seria o Campeão dos Centenários naquele glorioso ano de 1954. Está enterrado no cemitério da Quarta Parada. A mulher dele me contou essa história num dia em que eu fui com a minha avó visitar o túmulo do meu avô, vizinho do seu Proença. Ela me disse baixinho que desconfiava da manga com leite. (Sidney Borges)

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