Opinião

Uma campanha triste

Lucia Hippolito
Esta foi, sem dúvida, uma das campanhas mais borocoxôs da história das eleições brasileiras. E grande parte da responsabilidade cabe às regras que engessaram a campanha.
O Congresso votou uma mini-reforma eleitoral, com o objetivo de baratear as campanhas. Menos caixa 2, menos show e mais política, mais transparência.
A Justiça Eleitoral, por sua vez, aprovou grande parte da lei já para as eleições de 2006, mas os resultados não corresponderam exatamente à intenção dos legisladores.
A proibição de distribuição de brindes (chaveiros, bonés, camisetas etc.), aliada à proibição de outdoors e galhardetes, beneficiou caras conhecidas, como celebridades, coronéis, caciques e políticos que fazem campanha à base do mais deslavado assistencialismo.
Ah, beneficiou também mensaleiros que gastaram fortunas na eleição e gente que usou a mão pesada do Estado contra um cidadão indefeso – e também gastou rios de dinheiro na eleição.
Prejudicados foram os candidatos novos, que não tiveram espaço no horário eleitoral de rádio e TV nem puderam contar com instrumentos que pudessem divulgar seus nomes, como brindes, galhardetes, outdoors etc.
Também foram prejudicados deputados de opinião, que fazem campanhas austeras e gastam pouco. Muitos deles não foram reeleitos.
O resultado foi uma das mais baixas taxas de renovação da Câmara dos Deputados, na casa dos 42%. Muito pouco, tendo em vista o mar de escândalos que afogou esta legislatura que acaba sem deixar saudades.
O argumento do barateamento da campanha também não se sustenta. Esta semana o TSE autorizou o aumento dos gastos das campanhas presidenciais, que juntas gastarão mais de duzentos milhões de reais!
Alguns poderão argumentar que estes gastos são mais realistas, o que só confirma a tese de, em 2002, o caixa 2 correu solto, e em todas as campanhas.
Mas a proibição de brindes, outdoors, galhardetes e showmícios não visava baratear a campanha? Pelo visto, a intenção dos legisladores foi coroada de fracasso.
Não se inibiu o uso do caixa 2 – como, aliás, comprova o episódio da tentativa de compra do dossiê contra os tucanos. Segundo suspeita a Polícia Federal, o dinheiro era arrecadação de caixa 2 e foi utilizado para comprar o tal dossiê.
Não se fez cumprir sequer a Lei Etelvino Lins, que é de 1974! Para os que não se lembram, esta lei veio para acabar com o transporte de eleitores por candidatos e coronéis – o nome do autor é fina ironia, pois tratava-se de um dos mais notórios coronéis da política pernambucana.
A lei declara que o transporte de eleitores é função exclusiva da Justiça Eleitoral. Como esta não consegue dar conta do recado, eleitores continuam sendo transportados pelos políticos, das zonas rurais para os municípios, no dia da eleição.
Finalmente, quanto à presença de artistas nos comícios – os famosos showmícios –, a proibição transformou a campanha numa sucessão de eventos chatíssimos.
Qual é o problema em se ter um cantor, um artista animando um comício? Os gastos da campanha de 2006 mostram que o cachê dos artistas não era o item principal – sem contar que muitos artistas sempre participaram de graça.
O resultado foi o fiasco que se viu no encerramento das duas campanhas presidenciais. Os dois candidatos à presidência da República encerraram suas campanhas em São Paulo, maior cidade e maior colégio eleitoral do país, berço político dos dois candidatos, que lá fizeram suas carreiras.
Pois os dois candidatos conseguiram, em dois comícios inteiramente borocoxôs, reunir pouco mais de cinco mil gatos pintados em cada um. Convenhamos que é um encerramento prá lá de melancólico. Uma pena. (Fonte: Noblat)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mosca-dragão

Pegoava?

Jundu